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A guerra comercial: Os efeitos das tarifas de Trump em 2025

  • Gabriela de Freitas Lugli e Julian Alexienco Portillo
  • 28 de abr.
  • 5 min de leitura

Por Gabriela de Freitas Lugli e

Julian Alexienco Portillo


Este artigo analisa os principais impactos dessa nova política tarifária, com foco em seus desdobramentos econômicos, políticos e setoriais.


O novo cenário econômico e político dos Estados Unidos desde o início de abril de 2025, tem sido marcado por transformações de uma agenda abertamente protecionista e estratégica, durante esta segunda administração de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos da América.


As tarifas impõem desafios significativos à formulação de políticas públicas, exigindo respostas rápidas e complexas por parte do governo federal, dos estados e do setor produtivo. A imposição das novas tarifas tem como objetivo principal fortalecer a indústria nacional, reduzir a dependência externa e recuperar o protagonismo econômico do país com a justificativa de arrecadação de impostos e geração de empregos. No entanto, essas novas imposições têm desencadeado uma série de efeitos colaterais controversos e prejudiciais que vão muito além das fronteiras comerciais entre os países parceiros. Estas ações afetam diretamente o custo de vida dos consumidores e até mesmo a estabilidade das relações diplomáticas (HBR e Gazeta do Povo, 2025).


As novas tarifas impostas pela administração Trump têm provocado uma série de efeitos em cadeia que vão além da política comercial. Ao elevar o custo dos produtos importados, essas medidas impactarão diretamente o cotidiano da população que dependem de insumos, matéria prima e produtos importados, gerando inflação e elevando o custo de vida, sobretudo para as classes mais baixas. Segundo o jornal The Guardian (2025), o presidente Jerome Powell do Banco Central Americano (FED), afirma que o aumento tarifário será maior do que o esperado, com a expectativa de baixo crescimento econômico e inflação. As indústrias estrangeiras enfrentarão custos de produção mais altos, comprometendo sua competividade, podendo chegar a um aumento no indicador de desemprego americano.


Além disso, estas medidas têm levado os países parceiros a responder na mesma moeda com medidas retaliatórias, afetando exportadores norte-americanos, especialmente dos setores agrícola e tecnologia. A insegurança gerada por essa guerra tarifária atinge também os mercados financeiros, desencorajando investimentos de longo prazo e fuga de capital. Para mitigar os danos, o governo tem sido forçado a redirecionar recursos públicos, criando subsídios emergenciais e renunciando a agendas estruturantes, como as políticas ambientais, sociais e de governança (ESG). Dessa forma, as tarifas não apenas reconfiguram a dinâmica econômica, mas também alteram profundamente as prioridades da política pública nos Estados Unidos.


No campo político, a nova agenda tarifária tem ampliado divisões tanto no Congresso quanto entre os estados norte-americanos. Enquanto parte da base conservadora enxerga nas tarifas uma ferramenta de proteção à indústria nacional e de reafirmação da soberania econômica, opositores (inclusive dentro do próprio Partido Republicano) criticam os efeitos negativos sobre o consumidor e alertam para o risco de uma recessão. Governadores e legisladores de estados americanos, altamente integrados ao comércio exterior, como Califórnia, Texas e Nova York, têm se posicionado contra as medidas, defendendo maior autonomia para manter acordos comerciais próprios. Essa tensão entre o governo federal e os estados reacende debates sobre o federalismo americano e desafia a estabilidade política interna. Além disso, a retórica protecionista adotada por Trump afasta aliados históricos e reduz o espaço dos Estados Unidos em negociações multilaterais, dificultando a construção de consensos em outras frentes da política internacional, como segurança, meio ambiente e direitos humanos.


Além dos efeitos internos já observados, as novas tarifas impostas pela administração Trump — embora justificadas como medidas de proteção à indústria nacional — têm potencial de gerar impactos negativos significativos em setores estratégicos e de infraestrutura da economia norteamericana, como o minério e gás natural. A China, principal compradora global desses insumos, tende a responder à altura comercialmente, reduzindo suas importações provenientes dos Estados Unidos e redirecionando sua demanda para outros mercados, como Austrália, Brasil e Rússia. Esse movimento tem afetado de maneira direta as empresas americanas como a Dow, grande produtora de químicos, e outros mercados como papel e celulose. Suas ações, vem apresentando retração desde o anúncio das tarifas, continuam registrando novas quedas expressivas desde o início do mês de abril de 2025, refletindo o temor dos investidores diante de um cenário de excesso de oferta, redução de preços e consequente diminuição nas receitas e na geração de empregos.


Os impactos se estendem também ao setor tecnológico, especialmente devido à dependência dos Estados Unidos da cadeia produtiva chinesa. A imposição de tarifas sobre produtos vindos da China atinge diretamente a produção de componentes essenciais para eletrônicos de grandes marcas, como a Apple. A emblemática frase "Designed in California, Assembled in China", presente nos iPhones, simboliza uma das maiores e mais lucrativas parcerias industriais da história moderna (CNN,2025). No entanto, após o anúncio das tarifas, a Apple enfrentou forte desvalorização em suas ações, que caíram 9,2% na Bolsa de Nova York em apenas um dia, eliminando cerca de US$ 311 bilhões (equivalente a R$ 1,6 trilhão) em valor de mercado. Essa foi a pior retração diária da empresa desde 16 de março de 2020, no auge da crise provocada pela pandemia de Covid-19 (Infomoney, 2025).


Diante da reação dos mercados e da pressão de consumidores e empresas, o governo decidiu recuar parcialmente. No dia 12 de abril, o presidente Trump anunciou a exclusão de celulares, computadores e chips das tarifas recíprocas, segundo o jornal O Globo (2025) . A medida trouxe um breve alívio ao setor, mas sem diminuir o grau de incerteza das empresas. Segundo a matéria, em Nova York houve uma corrida dos consumidores às lojas da Apple temendo aumentos de preços, o que demonstra a insegurança gerada na população, diante da instabilidade sobre as políticas comerciais.


Embora essa decisão represente uma tentativa de conter os danos, ela não resolve a questão estrutural. Caso a administração insista em uma política de substituição de importações por produção 100% nacional — o chamado "Assembled in the USA" — os custos de produção podem subir significativamente (CNN, 2025). Por meio de uma matéria da Forbes Tech, estudos indicam que o aumento nos preços pode ultrapassar 25%, tornando os produtos eletrônicos inacessíveis para grande parte da população global e restringindo ainda mais o consumo. Assim, a política tarifária, ao invés de fortalecer a economia, corre o risco de isolar os Estados Unidos comercialmente, provocar distorções de mercado e reduzir a competitividade de suas maiores marcas no cenário internacional.


De uma perspectiva externa, economistas brasileiros observam a política tarifária com ceticismo quanto à sua sustentabilidade no médio e longo prazo. Em entrevista à Agência Brasil, o professor Pedro Paulo Zaluth Bastos, da Universidade Estadual de Campinas (Bastos, 2025), afirmou que a continuidade das tarifas é incerta, o que compromete decisões empresariais e inibe investimentos. Segundo ele, os efeitos inflacionários de curto prazo podem minar o apoio político a Trump e favorecer o retorno dos democratas ao Congresso nas eleições de novembro de 2026. Bastos ainda destacou que os Estados Unidos não possuem capacidade de produção interna para suprir a demanda por diversos produtos tarifados — como café, frutas, legumes e vestuário — já que perderam parte expressiva de sua base industrial nas últimas décadas.


A guerra comercial, além das incertezas provocadas nos mercados, também afasta os investidores (Valor Globo, 2025), enfraquecendo a posição atual dos Estados Unidos no mercado global e de commodities. Além disso, persiste a dúvida sobre os reais impactos no futuro do mercado de ações, especialmente em setores estratégicos. As políticas tarifárias adotadas pela nova administração Trump, em 2025, refletem uma abordagem protecionista com o objetivo de fortalecer a economia doméstica. No entanto, as consequências dessas medidas (como a volatilidade dos mercados, o aumento da inflação e o acirramento das tensões diplomáticas) evidenciam os desafios e as complexidades de se implementar políticas comerciais unilaterais em um cenário global cada vez mais interconectado que sofrerá impactos bilaterais nessa nova imposição de mercado.


Gabriela de Freitas Lugli e Julian Alexienco Portillo são aluna e professor do curso de graduação em Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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