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Eleições municipais de 2024 em São Paulo: reflexo da polarização política nacional

  • Vitória Batista Santos Silva
  • 16 de set. de 2024
  • 3 min de leitura
Por: Alexandre André Conchon e Vitória Batista Santos Silva

As eleições para a prefeitura de São Paulo chegaram, trazendo muito ruído, escândalos e polarização. São cinco os principais candidatos: Guilherme Boulos (PSOL), José Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata

Amaral (PSB). Os candidatos com menor porcentagem nas pesquisas são Altino Prazeres (PSTU), Bebeto Haddad (DC), Marina Helena (NOVO) e Ricardo Senese (UP). As eleições estão previstas para os dias 6 e 27 de outubro, para o primeiro e segundo turnos, respectivamente.

 

Tradicionalmente, observa-se que São Paulo já funciona como cenário para disputas entre tendências usualmente classificadas como centro-direita ou centro-esquerda, tendo no PSDB uma força que dominou o jogo político na cidade ao longo das últimas décadas. No entanto, verifica-se que partidos mais alinhados à esquerda vêm ganhando espaço no debate municipal, sinalizando que o eleitor paulistano está cada vez mais disposto a considerar propostas alternativas para guiar o governo da cidade.

 

Como esperado, esta eleição está polarizada, mas de uma forma diferente. Desde 2018, os dois polos eram ocupados pelos simpatizantes do Partido dos Trabalhadores (PT), mais especificamente de Lula, e pelo candidato alinhado ao pensamento bolsonarista. A partir de 2022, o espaço à direita sofreu uma disputa interna, e parece que o bolsonarismo se tornou maior que seu criador, Jair Bolsonaro. O candidato oficial de Bolsonaro para a prefeitura de São Paulo é Ricardo Nunes, mas os bolsonaristas estão claramente divididos entre ele e Pablo Marçal. Ricardo Nunes representa o típico candidato conservador de São Paulo, sem grandes promessas de mudança. Já Marçal é visto como um candidato "anti-sistema", seguindo uma estratégia similar à de populistas ao redor do mundo - notadamente um admirador de Bukele, o atual presidente autoritário de El Salvador. Marçal se apresenta como alguém contra tudo e todos, com um discurso semelhante ao de Bolsonaro em 2018.


Essa disputa marcada pelo forte caráter ideológico de cada um dos candidatos muitas vezes acaba por ofuscar as questões mais relevantes relacionadas a políticas públicas, dando mais espaço a ataques identitários e pessoais por parte dos concorrentes, o que gera um certo cansaço na população, mas acaba mobilizando segmentos específicos de cada uma das partes a tentar fazer com que seu resultado seja melhor.


No campo da esquerda, a disputa principal ocorre entre Guilherme Boulos e Tabata Amaral. Boulos é visto por muitos como o herdeiro político de Lula, mas, diferentemente deste, ele não vem da classe operária nem dos sindicatos. Boulos tem um histórico radical e foi criticado por sua postura em relação às ditaduras latino-americanas, como o caso de Cuba e Venezuela. Recentemente, ele parece ter adotado uma postura mais moderada - seja por estratégia ou não, ele não se apresenta mais como um candidato alinhado ao pensamento socialista, embora pessoalmente ainda se considere um. Sua principal pauta continua sendo habitação e moradia. Tabata Amaral, por outro lado, se posiciona na centro-esquerda, como uma candidata progressista - ou, como mencionou em entrevista, entre o liberalismo progressista e a social-democracia. Ela é frequentemente lembrada como a deputada que votou a favor da Reforma da Previdência e é uma defensora das políticas educacionais. Há ainda um quinto candidato, de difícil classificação no espectro eleitoral: José Luiz Datena. O apresentador de programas sensacionalistas já se aventurou em eleições antes, mas sempre desistiu no meio da corrida.


Assim, São Paulo tem à disposição uma variedade de projetos: conservador, populista, socialista e liberal. Vale lembrar que, independentemente do vencedor da eleição à prefeitura, os desafios para quem assumir são significativos, incluindo as esferas de mobilidade urbana e transporte público, questões habitacionais, sobre violência, além da preocupação relativa à cracolândia e ao resgate do centro, fora problemas estruturais de saúde pública.


Finalmente, vale lembrar que parte considerável da disputa está concentrada nas redes sociais. Recentemente houve o bloqueio da plataforma X (antigo Twitter) no Brasil, como resultado de um longo debate entre o proprietário da plataforma, o empresário sul-africano Elon Musk, e as exigências feitas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – muitas delas destinadas justamente a frear discursos de ódio e a veiculação de fake news pelas redes sociais. Esse bloqueio também pode trazer mudanças para a corrida eleitoral, favorecendo candidatos que se comunicam por outras mídias, além de trazer consequências também para a cobertura eleitoral realizada pela imprensa brasileira, abrindo espaço para a discussão sobre liberdade digital e de expressão e a necessidade de regulação do ambiente virtual. Nota-se, portanto, que a disputa eleitoral não ocorre apenas no momento do debate entre os candidatos, mas também nas redes sociais. Resta aguardarmos os próximos dias para verificar como irá se desenrolar a disputa, mas temos como pressuposto que a adaptação dos candidatos e o comportamento do eleitor devem definir os rumos da eleição.

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