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Novo capítulo da guerra comercial entre China e EUA: as medidas nacionalistas aplicadas pelo segundo governo Trump

  • Vitória Vitiritti
  • 28 de abr
  • 5 min de leitura

Por Vitória Vitiritti

 

A guerra comercial entre os EUA e a China começou em 2018 e já impactou a economia mundial algumas vezes. Nesse contexto, ambas nações buscam aumentar seu poder e influência no sistema internacional, assegurando assim, seus interesses. Após a vitória de Donald Trump como novo presidente estadunidense em 2025, um novo capítulo dessa guerra se iniciou com a taxação excessiva de produtos chineses por parte dos EUA. Considerando isso, pode-se analisar o impacto que essa medida tem para os EUA, para a China e para a economia mundial.


Toda superpotência busca assegurar seus interesses no sistema internacional de diversas formas, como por meio da influência que ela tem sobre outros países e da manutenção da ordem mundial favorável a si. Nesse sentido, as potências podem usar o soft power e o hard power para tal - o primeiro refere-se à utilização da cultura, valores e ideais e o segundo a aspectos militares e econômicos - (NYE, 2004). Dessa forma, na disputa comercial, tanto os EUA quanto a China, que são as nações mais poderosas da atualidade, estão em busca desses objetivos explicados por Joseph Nye no que tange o hard power econômico. Vale pontuar que o governo de Trump almeja retomar o status de superpotência para os EUA, enquanto o governo de Xi Jinping busca continuar o avanço do poder chinês. Portanto, essa guerra representa um embate econômico e comercial entre duas potências.


Tendo isso em vista, a disputa entre os dois Estados começou em 2018, quando Donald Trump, em seu primeiro mandato, impôs novas tarifas sobre alguns produtos chineses o que ocasionou o mesmo ato por parte de Xi Jinping como retaliação. Desde então, as relações econômicas entre eles enfrentam algumas dificuldades. Por mais que haja certas divergências, ambos países precisam de certa forma do outro para manter suas economias. Nesse sentido, os EUA importaram cerca de 427 USD bilhões da China em 2024, enquanto no mesmo período o país asiático importou 143 USD bilhões (STATISTA, 2024). Logo, a China é mais importante para a economia estadunidense do que o contrário, de forma que os EUA podem se prejudicar mais se eles não conseguirem importar os bens chineses.


Essa disputa que começou há seis anos agora adquire um novo capítulo com a volta de Trump à presidência estadunidense, aumentando o desgaste entre os países. Após sua vitória, ele aumentou as tarifas de importação em relação a diversos países, como o Brasil e a China. Em resposta a isso, Pequim também as aumentou proporcionalmente, de modo que as tarifas contra produtos chineses podem chegar a 250%, enquanto o contrário pode alcançar 125% (G1, 2025). Entretanto, o presidente estadunidense congelou algumas taxações e diminuiu outras, evidenciando que o país talvez não consiga arcar com os efeitos de suas medidas. Todavia, mesmo que essas tarifas elevadas não se mantenham, elas desestabilizam a economia e o comércio global. Sendo assim, ambas nações quanto a economia global são impactadas por isso.


Considerando isso, pode-se analisar as consequências dessa situação para os EUA. Um dos motivos pelos quais a Casa Branca aplicou essas medidas é o protecionismo econômico. De acordo com Alexander Hamilton, essa prática visa fomentar a indústria nacional por meio de medidas do governo que a protejam da concorrência externa, por exemplo a aplicação de tarifas à produtos estrangeiros e benefícios diversos para esse setor. Além disso, ela é necessária para o desenvolvimento econômico dos Estados (HAMILTON, 1791). Esse tipo de prática é comum entre políticos do partido republicano que historicamente defendem essa ideia como forma de proteger os interesses nacionais e aumentar a autossuficiência da nação (IRWIN, 2017). Nesse sentido, Donald Trump objetiva fortalecer a indústria estadunidense a fim de diminuir sua dependência de produtos chineses. Dessa forma, o país passa a ter mais autonomia e ser menos impactado por decisões chinesas. Paralelamente ao aumento das tarifas, a Casa Branca busca elaborar medidas para reestruturar e fortalecer a indústria nacional para que ela substitua os bens e produtos chineses. Entretanto, esse processo é longo e oneroso já que os custos para ampliar, construir e atualizar fábricas e indústrias é extremamente caro. Portanto, enquanto essa política não gerar os efeitos esperados pelo presidente Donald Trump, a população estadunidense sofrerá com a alta dos produtos chineses, que como explicado, compõem grande parte das importações dos EUA, de maneira que o consumo dos cidadãos diminuirá, prejudicando a economia.


No que tange a China, a principal consequência do incremento tarifário é a necessidade de realocação da produção que antes era exportada para os EUA. O país asiático é um dos maiores produtores de produtos e insumos do mundo, exportando desde peças de roupa (com baixo valor agregado), a baterias para aparelhos eletrônicos (BBC NEWS, 2025). Nesse sentido, o maior parceiro econômico da China são os EUA, logo, com o aumento das tarifas, a importação estadunidense diminuirá, gerando a necessidade de destinar os produtos então vendidos para os EUA para outros países. Considerando isso, caso ela não consiga redirecionar suas importações, a balança comercial será afetada negativamente.


Vale ressaltar a importância das baterias e das terras raras chinesas nesse embate comercial. Isso porque a China é grande exportadora de baterias essenciais para diversos tipos de produtos eletrônicos e possui terras raras, ricas em metais utilizados pela indústria global (BBC NEWS, 2025). Desse modo, ambos são essenciais para os EUA, de forma que eles são um ativo de poder chinês nessa disputa para assegurar seus interesses frente aos EUA. Portanto, esse é um ponto de atenção para a Casa Branca ao realizar ações contra o governo asiático.


Por fim, a economia global também sofre consequências dessas movimentações. Atualmente o mundo é globalizado, de modo que ações realizadas por um Estado pode atingir alcance mundial, como é o caso de os EUA e da China que representam juntos 43% da economia global, ou seja, as políticas aplicadas por eles possuem efeito mundial (BBC NEWS, 2025). Nesse caso específico, o aumento das tarifas causa uma instabilidade econômica entre as nações, já que os dois Estados são importantes parceiros comerciais de grande parte dos países. Dessa forma, os outros países precisam se adaptar a essa situação, buscando a melhor alternativa. Uma delas que já está sendo aplicada é a busca pela maior independência econômica, tornando-se menos vulneráveis às decisões das duas potências.


Sendo assim, pode-se concluir alguns aspectos desse novo capítulo da guerra comercial entre a China e os EUA. Primeiramente, essa é uma disputa entre duas potências mundiais que buscam aumentar seu poder e maximizar os seus interesses. Logo, ela representa uma das características no processo de mudança da ordem mundial, na qual a China torna-se a maior potência ao invés de os EUA. Outrossim, por mais que ambos os Estados sofreram consequências negativas do incremento das tarifas de importação, o país americano é o mais atingido, devido aos aspectos explicados anteriormente. Outro aspecto importante é a busca por independência econômica, o que representa uma tendência de contração do comércio mundial, contrapondo-se ao atual mundo globalizado.

 

Referências bibliográficas:


CASA Branca divulga documento com tarifa de 245% para chineses, causa confusão e atualiza texto. G1, São Paulo, 16 de abril 2025. Disponível em:    https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/04/16/casa-branca-tarifas-china-245.ghtml . Acesso em 21 de abril de 2025.


HAMILTON, Alexander. Report on the Subject of Manufactures. The Papers of Alexander Hamilton. ed. Harold C. Syrett. New York: Columbia University Press, vol. 10, December 1791 – January 1792, 1966.


IRWIN, Douglas. Clashing over Commerce: A History of U.S. Trade Policy. University of Chicago Press. 2017


NYE Joseph. Soft Power: The Means to Success in World Politcs. PublicAffairs Books. 2005.


O que guerra comercial entre EUA e China significa para o mundo. BBC News, 9 de abril 2025. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/creqq75dnn9o . Acesso em: 21 de abril 2025.


SAIBA como funciona a exportação chinesa. FazComex, São Paulo, 11 de março 2025. Disponível em: https://www.fazcomex.com.br/comex/como-funciona-exportacao-chinesa/ . Acesso em: 21 de abril de 2025.


STATISTA. Volume of U.S. imports of trade goods from China from 1985 to 2024. 2024. Disponível em: https://www.statista.com/statistics/187675/volume-of-us-imports-of-trade-goods-from-china-since-1985/ . Acesso em 21 de abril de 2025.


STATISTA. Which Products Does America Export to China? 2025 Disponível em: https://www.statista.com/chart/13418/major-exports-from-the-us-to-china-by-goods-category/ > Acesso em 21 de abril de 2025.


Vitória Vitiritti é aluna do curso de graduação em Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

 

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