PIB surpreende no segundo trimestre de 2024 e traz implicações sobre trajetória fiscal e monetária do país.
- João Pedro Bacus Zambon
- 4 de set. de 2024
- 2 min de leitura
No segundo trimestre de 2024, segundo divulgação do IBGE nesta terça-feira (03/09/2024), o Produto Interno Bruto avançou 1,4% em relação ao trimestre anterior na série livre de influências sazonais. O avanço superou as projeções de mercado que, de forma geral, esperavam avanços menos pronunciados, ao redor de 0,9%, sob efeito dos danos climáticos no Rio Grande do Sul. Na comparação interanual, o PIB do segundo trimestre registrou um avanço robusto de 3,3%.

Em uma análise geral sob a ótica da oferta, o PIB deste trimestre foi puxado primordialmente por avanços consideráveis no segmento industrial (+3,9% YoY). Com o ciclo de cortes dos juros iniciado em 2023 e encerrado nos meses mais recentes, o setor, que no primeiro trimestre registrou um desempenho decepcionante, parece finalmente ter começado a reagir à política monetária menos restritiva. Em uma análise mais minuciosa, encontramos fatores que corroboram com este diagnóstico com participação relevante do segmento de Construção (+4,4% YoY) no avanço do Indústria, característico por sua sensibilidade ao crédito.
Adicionalmente, ainda na mesma ótica, o setor de Serviços (+3,5% YoY) também registrou um avanço relevante neste segundo trimestre de 2024, se mostrando ainda bastante acelerado, movimento que possivelmente decorre da redução consistente do desemprego, dos ganhos reais de renda desde 2023 e da expansão fiscal.

Pela ótica da demanda, em consonância com as análises setoriais, foram observados ganhos em todas as aberturas. Destaca-se, em especial, o avanço da Formação Bruta de Capital Fixa (+5,7% YoY), que responde em maior parte à redução dos juros. O Consumo familiar (+4,9% YoY), corroborando com a descrição por trás da dinâmica do setor de Serviços, também apresentou um bom avanço no segundo trimestre, acompanhada pelo Consumo do governo (+3,1% YoY), que também cresceu de maneira robusta, fundamentando a expansão geral da atividade ao continuamente fornecer ímpeto à demanda agregada.

Em resumo, as contínuas surpresas do PIB neste primeiro semestre de 2024 sugerem que as projeções iniciais de expansão mais arrefecida podem ter subestimado o potencial da economia brasileira para o ano, e nas próximos semanas é possível que vejamos correções das projeções de mercado. Evidente, porém, que o resultado do trimestre não traz consigo somente notícia positivas. Com o hiato do produto próximo da neutralidade, ao menos segundo avaliações do BC, devemos ver uma ampliação dos debates em torno da falta de harmonia entre a política fiscal e monetária, com ênfase às pressões sobre a trajetória atual da inflação e questionamentos acerca do patamar estimado para o juro neutro da economia. Adiante, com um PIB acelerado pela expansão fiscal e por um mercado de trabalho persistentemente aquecido, que se soma à deterioração das contas públicas e ao lado da oferta pouco capaz de acompanhar tamanha expansão, é possível que comecemos a perceber uma retomada das pressões para um novo ciclo de aperto monetário e uma elevação das projeções de inflação de curto e médio prazo.
Por João Pedro Bacus Zambon é discente do curso de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.


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