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Qual a relação entre a microeconomia e o futebol? Assimetria de informação e perda de valor no futebol.

  • Paulo Dutra Constantin
  • 16 de ago. de 2024
  • 3 min de leitura

Os modelos microeconômicos fundamentais possuem pressupostos de que os mercados, compostos por compradores e vendedores/produtores, possuem informação simétrica em relação aos preços, qualidades dos bens e serviços e dos objetivos das gestões disponíveis, porque é “barata” para ser obtida. Na indústria do futebol, a obtenção das informações, por exemplo, pela qualidade e preço dos atletas, comissões técnicas e dos gestores, que pode possuir interesses divergentes entre os resultados administrativos/financeiros e desportivos, é elevada e, por isso, existe assimetria de informação.


George Akerlof com o texto “The Market for Lemmons: Quality Uncertainty and the Market Mechanism”, em 1979, foi o primeiro a desenvolver um modelo em que os consumidores (demandantes) e ofertantes (produtores) possuem informações distintas a respeito dos bens e serviços. Em2001, ele foi agraciado com o Prêmio Nobel de Economia por sua obra, o que demonstra a sua relevância para o desenvolvimento do mercado, especificamente o do futebol no Brasil.


De acordo com o relatório “Finanças Top 20 clubes brasileiros em 2023”, da Sport Value, divulgado em maio de 2024, as receitas destes clubes atingiram R$ 9 bilhões, sendo alavancadas por recursos provenientes das transferências, publicidades e matchday.


O relatório apresenta possibilidades de ampliação das receitas com novos patrocinadores, novas mídias e a exploração de mercados internacionais. No entanto, ao confrontar com a realidade, existem obstáculos a serem superados.


O próprio relatório traz um Disclaimer referente aos valores que os clubes da Liga Forte União (LFU) anteciparam: 20% dos direitos de TV por 50 (cinquenta) anos, que deveriam ser registrados por regime de competência, mas que alguns times lançaram como receitas operacionais de 2023.


Ainda de acordo com o relatório, isto constitui dois erros graves: “são valores futuros de um ativo negociado, portanto, jamais podem ser registrados como recursos gerados com a operação dos clubes”; registrar integralmente o valor e não dividido pelos 50 anos. Isso preservaria gestões futuras, que também poderiam ter acesso aos recursos”.


Além do Disclaimer do Sport Value, que é fundamental para identificar os custos relacionados a inconsistências contábeis, esta falta de transparência pode impactar diretamente na geração de novas receitas. Os patrocinadores terão resistência em aportar recursos em agremiações que poderão reduzir o valor de suas marcas. Como exemplo, foi recentemente divulgado na imprensa, o caso de uma empresa de varejo digital que decidiu não patrocinar um time da primeira divisão do campeonato brasileiro, em decorrência de uma polêmica envolvendo “laranjas” na negociação. Este fato impacta negativamente não somente aquele time, mas todos os demais.


Outro obstáculo que vale citar é a divisão dos clubes em duas ligas: a Liga Forte União e a Liga do Futebol Brasileiro (LIBRA). Esta divisão diminui o poder de negociação, tanto para a redução de custos quanto para aumento de receita, impactando negativamente o potencial de ganho das agremiações/times.


Por fim, o futebol é a principal representação cultural brasileira e existem excelentes profissionais das diversas áreas do conhecimento que podem contribuir para seu desenvolvimento e ampliar sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O setor também é responsável pela criação de novas e bem remuneradas oportunidades de emprego, em um cenário no qual a Inteligência Artificial (IA) está reduzindo os postos de trabalho em áreas tradicionais. Mas, para que o desenvolvimento aconteça, as agremiações/times de futebol precisam incorporar processos de governança corporativa, além de reduzir as diferenças políticas para constituir uma única Liga que será capaz de obter melhores resultados para o setor.


  • Paulo Dutra Costantin. Professor Dr. de Ciências Econômicas e Executivo de Futebol certificado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF)


  • Johnny Silva Mendes. Professor Dr. de Finanças

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