Reta final da disputa à prefeitura de São Paulo
- Rodrigo Augusto Prando
- 28 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Estamos a poucos dias do segundo turno da eleição municipal. Na cidade de São Paulo, temos Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) numa situação distinta do primeiro turno, na qual até o fim da apuração, havia, praticamente, um empate triplos entre Nunes, Boulos e Pablo Marçal (PRTB).Neste segundo turno, Nunes – atual prefeito, com a máquina nas mãos, coligação robusta e muitos vereadores nas ruas – tem situação bem mais confortável que Boulos.
Boulos apostou no discurso assentado na mudança, quis, em muitos momentos, reafirmar a polarização trazendo à tona Lula (seu padrinho) e Bolsonaro (apoiador de Nunes) buscando rememorar a eleição presidencial de 2022. Uma chuva, nem tão forte, foi capaz de deixar milhares de paulistanos sem energia e, com isso, a campanha do psolista se empolgou e quis carimbar em Nunes a culpa pelo ocorrido. Não foi suficiente e o prefeito conseguiu, no tempo certo, apresentar sua narrativa e direcionou parte das críticas à Enel e ao Governo Lula.
Nunes, por sua vez, buscou trazer a campanha para o campo da comparação entre as biografias: do prefeito, realizador de obras e moderado; contra Boulos cuja imagem percebida por muitos é de um radical, dado sua atuação nos movimentos sociais pela luta por moradia. Nunes não teve um Bolsonaro ativo no primeiro turno e, mesmo agora, foi assaz singela a participação do ex-presidente. Todavia, a presença, com entusiasmo, do Governo Tarcísio Freitas fez, simbolicamente, a diferença a favor de Nunes. Se, no primeiro turno, Nunes foi considerado, por alguns, como fraco ou moderado demais para o gosto do bolsonarismo, agora, é uma imagem que se distancia daquela construída a respeito de Boulos.
Tendo ficado em terceiro lugar, Marçal tem um considerável número de votos e estes, segundo as pesquisas, foram direcionados majoritariamente para Nunes. Mesmo Tabata Amaral (PSD) e José Luís Datena (PSDB) declararem apoio a Boulos, o deputado encontra-se em desvantagem em relação a Nunes. A pesquisa Quaest divulgada em 23/10, mostra Nunes com 44% e Boulos com 35% das intenções de voto; já a pesquisa Datafolha, de 24/10, apresenta Nunes com 49% e Boulos com 35%. Até houve variação positiva para Boulos e Nunes caiu alguns pontos se comparado com as pesquisas anteriores, contudo, insuficiente, até o momento, para colocar em risco a virtual reeleição de Nunes.
No universo das metáforas futebolísticas, Nunes joga parado, não se arriscando muito em sair para o jogo – inclusive participação em debates e sabatinas – e Boulos, no caso, tem que se defender, construir o ataque, cruzar a bola e se apresentar na área para fazer o gol. Há quem assevere que Boulos teve uma crise de identidade durante a campanha: começou paz e amor; perdeu a paciência com Marçal, no episódio da carteira de trabalho; teve que atacar Nunes de forma incisiva, mas não podia parecer radical para assustar o eleitor; e, agora, no final, além de buscar votos no eleitor de Marçal, parece ter aceitado uma sabatina proposta por Marçal com os dois candidatos (que Nunes descartou peremptoriamente). Além disso, no debate Record/Estadão, Boulos, ao estilo de Marçal, anunciou que algo “grave” sobre Nunes seria apresentando durante a semana e já estamos na quinta-feira e nada foi divulgado.
Enfim, em três dias saberemos quem será o prefeito eleito de São Paulo. Os números e o cenário são francamente favoráveis a Nunes, contudo, fatos extraordinários podem ocorrer e uma virada de Boulos se apresentar. Política não é ciência exata e isso traz emoção até o final!
Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador na Universidade Presbiteriana Mackenzie.


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