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Sob as águas: entre sofrimento, reflexão e aprendizado

  • Elton Duarte Batalha
  • 2 de jul. de 2024
  • 3 min de leitura

Por Elton Duarte Batalha


O desastre climático que tomou conta do Rio Grande o Sul nos últimos tempos produziu sofrimento extremo, com a perda de muitas vidas, algo de valor inestimável, e prejuízo econômico de grande extensão, que demandará muito tempo, ao que tudo indica, para recuperação. Além da dor causada pelas águas que tomaram conta do território gaúcho, restaram alguns aprendizados (ou, ao menos, reflexões) acerca de assuntos como a relação entre sociedade civil e Estado, a politização da dor por figuras públicas e a importância do evento para a economia.


Primeiramente, ficou clara a força da sociedade civil diante das características do Estado brasileiro. Políticos de diversas orientações ideológicas demonstraram certa inabilidade e intempestividade na condução da coisa pública diante dos efeitos da tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul. Dada a lentidão e ineficácia das estruturas de poder, os indivíduos em território gaúcho, contando com auxílio de pessoas de outras entidades da federação, uniram-se para resolver assuntos que demandavam ações emergenciais. Assim, restou evidente a relação de complementaridade entre sociedade e Estado, uma vez que o entre estatal não cumpriu (mais uma vez) suas funções a contento. É algo que a população deve recordar quando se dirigir às urnas nos pleitos vindouros.


Segundo e lamentável ponto diz respeito à politização da dor. À direita e à esquerda no espectro político, surgiram figuras que, com o objetivo de sinalização de suposta virtude pessoal, antes mesmo de prestar qualquer auxílio aos necessitados, pareciam mais preocupadas em apontar o dedo para possíveis culpados. Em um país sério, a responsabilização deve ocorrer, mas no momento adequado, após a resolução dos problemas urgentes. No Brasil, é pouco provável que isso aconteça, mesmo que tempestivamente, o que demonstra como o arcabouço institucional é frágil e a democracia é conceito mais formal que substancial nestes tristes trópicos.


Outro elemento que está cada vez mais evidente e que demandará esforço nacional diz respeito às consequências econômicas para os gaúchos (em maior grau, por óbvio) e, em certa medida, para todo o país. A população do Rio Grande do Sul necessitará de mobilização de longo prazo para a reconstrução da respectiva infraestrutura e auxílio para a retomada de determinados setores produtivos especialmente atingidos pelo efeito das chuvas torrenciais, com destaque para o setor agrícola. Assim como a construção de moradias e o preparo adequado de meios de prevenção aos desastres climáticos, deve haver um planejamento nos âmbitos municipal, estadual e federal quanto à retomada dos setores que geram riquezas e fornecem melhores condições de vida aos gaúchos e ao país.


Como qualquer pessoa minimamente madura sabe, acontecimentos que provocam dor e sofrimento estão à espreita de qualquer um no decurso da existência, sejam eventos da vida cotidiana, sejam fenômenos de grande amplitude, como o ocorrido no Rio Grande do Sul. Alguns ensinamentos podem ser extraídos da mencionada tragédia, como o papel da sociedade civil, a deficiência na ação do ente estatal (seja de modo preventivo ou posterior ao fato) e a politização da dor por pessoas com algum desvio moral. Resta a todo o Brasil, passado o primeiro momento emergencial, continuar a apoiar os gaúchos nesse período de reconstrução, quando os holofotes tendem a diminuir, mas as demandas essenciais continuam presentes. Certamente, se o restante do país deixar de lado a retórica divisiva fomentada por políticos oportunistas e mantiver o apoio aos brasileiros do sul (algo que, além de eticamente obrigatório, faz parte do conceito de federação), eles se recuperarão no menor tempo possível e continuarão a evidenciar quão verdadeiro é o respectivo hino, mostrando valor e constância, servindo as façanhas gaúchas de modelo a toda Terra.


  • Elton Duarte Batalha é Professor de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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