Zonas Mistas em São Paulo: a solução para o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável?
- Marcelo Samos
- 15 de nov. de 2024
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Por Marcelo Samos
São Paulo é uma cidade de contrastes, onde o dinamismo urbano e econômico convive com uma estrutura de setores rígida e, muitas vezes, segregada. Apesar de contar com algumas zonas mistas que combinam áreas residenciais e comerciais, a cidade ainda exibe uma clara separação entre regiões dominadas por um único uso. A avenida Faria Lima, por exemplo, é um dos maiores polos empresariais da cidade, com uma concentração de escritórios, empresas de tecnologia e serviços financeiros, enquanto bairros como a Chácara Klabin permanecem essencialmente residenciais, oferecendo poucos serviços e opções de comércio nas proximidades. Esse modelo setorizado cria desafios que vão desde o aumento da dependência de transporte até a dificuldade de acesso a empregos e oportunidades econômicas para quem mora distante dos grandes centros. Diante desse cenário, surge a pergunta: seriam as zonas mistas uma solução viável para promover um crescimento econômico mais sustentável e equilibrado em São Paulo?
O conceito de zonas mistas refere-se ao planejamento urbano que integra, em uma mesma área, usos residenciais, comerciais e até mesmo industriais, promovendo uma ocupação multifuncional e mais equilibrada dos espaços urbanos. Diferentemente de áreas setorizadas, onde cada uso é estritamente delimitado, as zonas mistas favorecem a proximidade entre moradia, trabalho e lazer, incentivando o uso do transporte ativo, como caminhadas e bicicletas, e diminuindo a necessidade de longos deslocamentos. Diversas cidades ao redor do mundo adotaram essa abordagem com sucesso: Copenhague, por exemplo, é reconhecida pelo planejamento que incentiva o uso misto em suas zonas urbanas, promovendo não apenas um ambiente vibrante, mas também uma redução nas emissões de carbono e no congestionamento de trânsito (Sager, 2011). Em Londres, o conceito de "vizinhança de 15 minutos" fomenta o uso misto e facilita o acesso aos serviços essenciais a poucos minutos de cada residência, melhorando a qualidade de vida e estimulando a economia local (Jacobs, 1961).
As zonas mistas trazem benefícios econômicos significativos, sobretudo em comparação com o modelo de zoneamento setorizado que predomina em São Paulo. Primeiramente, a integração de diferentes usos em uma mesma área pode impulsionar a economia local, ao estimular a criação de pequenos negócios e promover o crescimento de serviços de apoio, como restaurantes, lojas e espaços culturais próximos aos locais de trabalho e moradia. Esse tipo de ocupação favorece o aumento da produtividade, pois as pessoas têm acesso facilitado aos seus locais de trabalho e aos serviços necessários no dia a dia, o que reduz o tempo gasto em deslocamentos. Em cidades com zoneamento setorizado, como São Paulo, o fluxo diário de pessoas entre zonas residenciais e comerciais gera trânsito intenso e aumenta os custos de transporte e de tempo para os trabalhadores. Além disso, zonas mistas tendem a valorizar o mercado imobiliário ao redor, criando áreas mais dinâmicas e atrativas, o que, por sua vez, fomenta o investimento privado e amplia a base tributária local (Porter, 1995). Em uma cidade que ainda enfrenta grandes desafios de mobilidade e acesso desigual a oportunidades, as zonas mistas oferecem uma alternativa para promover uma economia urbana mais eficiente e integrada.
Adicionalmente, as zonas mistas também oferecem benefícios ambientais expressivos. Ao combinar áreas residenciais e comerciais em uma mesma região, as zonas mistas incentivam o uso de transporte ativo, como caminhar ou andar de bicicleta, reduzindo a necessidade de deslocamentos longos e frequentes entre casa e trabalho, o que diminui significativamente as emissões de gases de efeito estufa associadas ao uso de veículos motorizados. Esse modelo de desenvolvimento urbano também facilita a criação de espaços verdes integrados nas zonas mistas, que, ao serem distribuídos em áreas de alta densidade, ajudam a absorver poluentes e oferecem refúgios verdes acessíveis para a população. Em São Paulo, onde grandes áreas residenciais são afastadas dos centros comerciais e de trabalho, a implementação de zonas mistas pode contribuir para uma cidade mais sustentável e mais bem adaptada às necessidades ambientais e de mobilidade de seus habitantes.
Embora as zonas mistas ofereçam inúmeros benefícios, sua implementação em São Paulo enfrenta desafios significativos. Um dos principais obstáculos é a resistência de diferentes setores e comunidades locais, muitas vezes preocupados com o impacto que essas mudanças podem ter sobre o ambiente de seus bairros, como o aumento do fluxo de pessoas e o risco de gentrificação, que pode tornar o custo de vida insustentável para moradores de longa data. Há, ainda, desafios institucionais e burocráticos: o zoneamento da cidade foi estruturado há décadas com base em uma forte divisão funcional, e a transição para um modelo misto exige revisão de leis e regulamentações, além de esforços de coordenação entre diferentes esferas de governo e setores da sociedade (Sager, 2011). Esse cenário exige não só novas políticas urbanas, mas também um planejamento cuidadoso que respeite as particularidades locais, para que as zonas mistas sejam implementadas de forma inclusiva, sustentável e alinhada às reais necessidades da cidade.
Em conclusão, as zonas mistas apresentam-se como uma solução fundamental para enfrentar os problemas de tráfego e promover o desenvolvimento econômico sustentável em São Paulo. Integrando moradia, comércio e trabalho em um mesmo espaço, essas zonas não apenas reduzem a dependência de longos deslocamentos, mas também dinamizam a economia local e melhoram a qualidade de vida dos habitantes. Contudo, é preciso reconhecer que a transição para um modelo urbano misto não é simples e pode, sim, gerar desafios – especialmente no que diz respeito a evitar a gentrificação e a preservar a identidade local das regiões afetadas. O maior entrave para a implementação das zonas mistas, porém, continua sendo o desafio institucional e burocrático. Modificar uma estrutura de zoneamento consolidada e altamente segmentada exige adaptações legais e uma coordenação cuidadosa entre diferentes esferas de governo e setores da sociedade. Superar essas barreiras é essencial para que São Paulo possa evoluir rumo a uma cidade mais integrada, equilibrada e sustentável, capaz de responder aos desafios contemporâneos de mobilidade e crescimento econômico com inovação e inclusão.
Referências
Sager, F. (2011). The urban development of mixed-use neighborhoods: A review of key concepts and findings. Urban Studies, 48(1), 1-20.
Jacobs, J. (1961). The Death and Life of Great American Cities. Random House.
Porter, M. E. (1995). The Competitive Advantage of the Inner City. The Free Press.
Marcelo Samos é aluno da gradução em Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie..


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