A Faria Lima e a diversidade inócua
- Thomas Godoy Ambrózio
- 23 de out. de 2024
- 2 min de leitura
A evolução humana, como a história nos mostra, caminha lado a lado com o desenvolvimento de suas cidades. As praças públicas de Atenas do séc. IV a.C e o desenvolvimento da filosofia ocidental; os canais de Florença e o Renascimento Cultural; as calorosas Birmingham e Londres sendo o berço da Revolução Industrial. Muito encontramos também nas cidades modernas, naquelas que tanto nos brilham aos olhos e elencamos como as mais pujantes de nosso século, como Barcelona, Nova Iorque, Londres, Xangai, Tóquio etc., compartilham um denominador em comum: regiões de intensas trocas comerciais e culturais. Suas ruas e comércio convidam, naturalmente, as pessoas para que desfrutem dela. Este intercambio de mercadorias, serviços e pessoas permite a ascensão daquele fator que é, segundo Romer (1986), tão indispensável para o crescimento quanto os tradicionais “capital, terra e trabalho”: ideias.
Cidades, assim como observado pela urbanista Jane Jacobs em “The Economy of Cities”, são centros de inventividade em razão de sua intensa produção urbana resultante dos diferentes encontros cotidianos. São nas interações de um engenheiro com um advogado e um cientista de dados em um “cafezinho” em que se é produzido o insumo inovativo para a geração de ideias - adote que aqui os arranjos possíveis são infinitos.
Ao olharmos para São Paulo, cidade global com 11.451.999 habitantes (IBGE, 2022), esta já foi alvo de diversas operações urbanas ao longo do tempo, que vislumbravam a criação de espaços semelhantes aos mencionados anteriormente: intensos e vivos. Um exemplo? A Faria Lima.
Essa região, que hoje é tratada como a mais rica e próspera da cidade e do país é, na realidade, uma das menos inclusivas e diversas, tanto economicamente quanto, e, principalmente, do ponto de vista urbanístico. Não à toa, muitas das vezes é reconhecida por seu setor financeiro, apenas. A hegemonia deste é absoluta na região. A intensa concentração do setor em número de empresas e de empregos pelos bairros que a corta reflete-se em meio a seu ambiente pouco excitante. Seus modernos e envidraçados prédios manifestam-se como elementos de baixa inclusão para os variados setores e atividades da economia.
É na falta de escritórios de arquitetura, unidades básicas de saúde, escolas, livrarias e dos raros “cafezinhos” que a pobreza urbana se manifesta em meio às sedes das maiores e mais poderosas multinacionais. A Faria Lima não entrará em decadência, mas pode se abrir ao potencial criativo e inovador que tanto se almeja em uma cidade e, assim, se tornar um lugar mais acolhedor aos cidadãos da cidade moderna.
Por Thomas Godoy Ambrózio. Estudante do curso de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pesquisador do programa PIBIC.


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