A geração Z à deriva no novo capitalismo
- Rogério Baptistini Mendes

- 15 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Por Rogério Baptistini
A geração Z é formada por pessoas nascidas entre a segunda metade dos anos de 1990 e 2010. Seus membros são jovens nativos tecnologicamente, que nasceram no mundo integrado pela internet, pelas redes sociais e por seus suportes físicos -os smartphones.
O seu drama é de natureza cultural, ou seja: a sociedade que habitam cria uma sensação de liberdade vivenciada no curto prazo, mas não oferece expectativas de longo prazo.
No presente, com saúde, imaginação e flexibilidade para adaptar-se ao fluxo das inovações, dos investimentos e da desregulamentação, as pessoas empreendem a própria vida. Caem, se levantam e recomeçam muitas vezes. A médio prazo, sem redes de solidariedade profundas em empregos estáveis, enfrentam a solidão e o cansaço, o que explica a atitude niilista de muitos adultos jovens. E, também, o adoecimento e os índices de suicídio.
Uma economia baseada na prestação de trabalhos temporários, de curto prazo ou alternativos exige um ser humano desvinculado das narrativas tradicionais do tempo, entregue ao curto prazo e com desdém pela memória enquanto acúmulo de experiências.
Nas sociedades analógicas, a relação do indivíduos com o tempo era de longa duração. Havia a expetativa de planejamento e controle de longo prazo em torno da carreira, das conquistas e da previdência. Essa narrativa envolvia duas instituições fundamentais: a empresa tradicional e o Estado.
A família, a escola, a universidade, a empresa, o Estado e as suas instituições se encadeavam na vida dos indivíduos de forma regular e contínua, conferindo pertencimento, sentido e identidade. Hoje, isso não mais acontece.
Para viver hoje, o sujeito não acumula experiências, pois as mudanças são aceleradas e disruptivas. Ele tem de ser flexível e estar constantemente em movimento, se reinventando. Seu conhecimento passado vale pouco ou nada vale. O que importa é estar disponível no presente para o exercício de tarefas - muitas em curto espaço de tempo. Eficiência é mote de uma sociedade que se consome no instante em que se cria e recria nas redes digitais.
Há análises que indicam os membros da geração Z como indivíduos que valorizam a independência e a flexibilidade, sendo que as regras rígidas de um emprego formal os aborrecem ou afastam. O problema é que estrutura do trabalho mudou ou está mudando.
As limitações aos investimentos caíram e o padrão de conduta dos investidores se alterou. Estes querem ganhar no curto prazo com a valorização das ações e não no longo prazo com os dividendos. Não bastasse, as alterações impostas pela tecnologia digital tornaram mais barato substituir trabalhadores por máquinas ou programas. Assim, o emprego e a carreira sofreram bruscas alterações. Profissões desapareceram, a estabilidade acabou e deixamos de constituir uma sociedade de produtores.
Neste novo mundo, em que todos tem de consumir para viver, mas nem todos encontram a segurança no trabalho, os membros da geração Z são os primeiros - mas não os últimos! – a enfrentar a sensação de estar à deriva, navegado sem enxergar horizonte.
Rogério Baptistini é professor e pesquisador na Universidade Presbiteriana Mackenzie.


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