Além do Palco: O Impacto dos Shows Internacionais na Economia Local
- Vitória Batista Santos Silva e Larissa Lugli Hidalgo Gonçales
- 28 de out. de 2024
- 5 min de leitura
O setor de eventos se destaca como um dos principais impulsionadores da economia local e nacional, especialmente em grandes metrópoles. A realização de eventos com atrações internacionais requer não apenas uma estratégia de marketing bem definida, bem com a compreensão sobre quem é o público-alvo e quais as características do mercado em que o evento será realizado. Com a evolução tecnológica, a venda de ingressos e a comunicação com o público também se transformaram, facilitando e ampliando o acesso a esses eventos. Entretanto, é crescente também a atenção necessária às questões de infraestrutura e ao alinhamento com a pauta da sustentabilidade.
De acordo com Ferreira (2019), é de extrema importância que grandes empresas tenham uma boa estratégia de marketing e conheçam o seu público-alvo, isso se faz através de pesquisa de mercado, cujo principal objetivo é identificar quais são as preferências do público e o seu perfil, funcionando como uma ferramenta de suma importância para fornecer parâmetros sobre como direcionar as estratégias necessárias para que se tenha um evento que atenda as expectativas do público. Hoje em dia, com a praticidade da Internet, muitos consumidores preferem comprar o ingresso pela internet do que ir a um ponto de venda físico. Além disso, a maioria desses consumidores não deixam de comprar o ingresso por conta da taxa de conveniência que é cobrada pelos sites, embora muitos deles não achem o preço compatível com a realidade da respectiva cidade.
Sabadini (2024), ao analisar dados disponibilizados pela Associação Brasileira de Produtores de Evento (Abrape) e pelo Centro de Inteligência da Economia do Turismo (Ciet), observou que o setor de eventos teve destaque significativo para a geração de empregos no Brasil no ano de 2023, sendo alguns dos eventos de maior impacto o show da cantora Taylor Swift, o Lollapalooza e o The Town. Atrações como essas contribuem para a economia tanto diretamente como indiretamente, estimulando os setores hoteleiro, de transportes, alimentício, dentre outros, impactando positivamente a economia tanto do ponto de vista local como nacionalmente. Ademais, no que se refere especificamente ao turismo, parte do público que não conhece a cidade aproveita para visitar os principais pontos turísticos, indicando um efeito também para o comércio local, fortalecendo a imagem do país como destino turístico e cultural, e potencializando a atração de futuros investimentos e novas oportunidades de negócios em diversos setores da economia. As cidades que mais recebem atrações internacionais são São Paulo e Rio de Janeiro, de forma que fãs de outras cidades se deslocam para ver os artistas e, consequentemente, contribuem para outros setores da economia.
Segundo Silva (2018) é possível listar diversos tipos de eventos, tais como os de caráter esportivo, social, cultural, gastronômico, entre outros. Mas para que esses eventos aconteçam é necessário saber a abrangência que determinado evento terá, avaliando o potencial local e a dimensão do público-alvo. O mercado de eventos vem se consolidando cada vez mais, principalmente na Região Sudeste, que tem uma maior demanda. O estado de São Paulo é o que tem tido uma procura maior de shows internacionais e a tendência nos próximos anos é de aumento, ainda mais considerando que o Brasil é a maior sede de eventos na América Latina, de acordo com dados de 2023 (ICCA, 2024).
Garbuio, Generoso e Gonçalves (2018) explicam que com o crescimento constante do setor de eventos é necessário inovação e investimentos em infraestrutura no setor de turismo, considerando os potenciais ganhos para a economia local. Um ponto amplamente discutido nesse setor é a qualidade do serviço oferecido e as expectativas do consumidor. É fundamental que o atendimento ao cliente passe por um processo de melhoria contínua, a fim de garantir que as expectativas sejam atendidas ou superadas, evitando que o cliente desenvolva um nível de expectativa que não possa ser correspondido, prezando por uma experiência mais satisfatória e fidelizando o consumidor.
Como já mencionado, o Rio de Janeiro é uma das cidades que mais atraem turistas. Também é uma das cidades mais conhecidas no exterior por conta de seu patrimônio e das paisagens como o Cristo Redentor, o Corcovado, além das praias. Quando eventos com atrações internacionais, como shows e festivais, a exemplo do Rock in Rio e do Lollapalooza, são realizados, eles não apenas proporcionam entretenimento para as regiões que os sediam, mas também atraem um número significativo de turistas internacionais, ampliando a visibilidade dessas cidades no cenário global (Marson et al., 2021).
Após várias edições do Rock in Rio, já foram implementadas melhorias significativas, refletidas principalmente nos indicadores de comercialização de mercadorias. No entanto, notou-se uma preocupação com a gestão do lixo, pois mostra-se elevado o patamar de resíduos recolhido no evento, seja de material reciclável ou não. Isso impulsionou a adoção de algumas medidas para as próximas edições, a fim de que seja possível controlar melhor o desperdício além de viabilizar o reaproveitamento e a reciclagem, alinhando às preocupações com a sustentabilidade, ligando o radar para os impactos negativos que podem surgir de grandes eventos, principalmente quando se leva em conta o aumento de público que é registrado no evento com o passar das edições (Marson et al., 2021).
Pode-se dizer, por fim, que o impacto de grandes eventos internacionais vai muito além do entretenimento, dado que eles atuam como catalisadores para transformação econômica e social, contribuindo para movimentar financeiramente a cidade, e impactando em setores como hotelaria, comércio, alimentação, entre outros, além de contribuir para a formação de uma visão global acerca do local sede do evento. Entretanto, a preocupação ambiental não pode ser deixada em segundo plano. A inovação que está presente nos eventos deve ser central para a pauta dos futuros eventos, combinando tecnologia, parceria entre empresas, e melhorias na infraestrutura, a fim de que seja possível conciliar diversão e responsabilidade, consolidando o Brasil como uma referência internacional também nesses quesitos.
Referências
FERREIRA, M. C.; MARTINS, I. Pesquisa de mercado como ferramenta para a produção de eventos. Marketing & Tourism Review, Belo Horizonte, v. 4, n. 1, p. 1-32, jan./jun. 2019.
GARBUIO, M. E. M. S.; GENEROSO, P. G.; GONÇALVES, G. D. R. Os Festivais como estratégia de fortalecimento dos destinos turísticos com vistas à qualidade dos serviços prestados. Caderno Virtual de Turismo, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 28-45, ago. 2018.
ICCA. ICCA Rankings 2023. 2024. Disponível em: https://www.iccaworld.org/news/post/icca-rankings-2023-released/. Acesso em: 21 out. 2024.
MARSON, L. S. C. et al. O impacto do megaevento rock in rio no turismo da cidade do Rio de Janeiro. Revista Eletrônica de Administração e Turismo - ReAT, Pelotas, v. 15, n. 1, p. 82–101, 2021.
SABADINI, J. P. Alta$ cifra$: grandes shows e festivais musicais aquecem o setor de turismo no Brasil. Jornal Casarão, 2024. Disponível em: https://jornalocasarao.uff.br/2024/06/20/alta-cifra-grandes-shows-e-festivais-musicais-aquecem-o-setor-de-turismo-no-brasil/. Acesso em: 10 out. 2024.
SILVA, K. A. C.; COLANTUONO, A. C. S. Indústria e turismo da cultura: uma observação preliminar sobre o Festival Lollapalooza. Revista da FAE, Curitiba, v. 21, n. 1, p. 110–136, jan./jun. 2018.
Larissa Lugli Hidalgo Gonçales e Vitória Batista Santos Silva, respectivamente, egressa e professora da graduação em Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.


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