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Análise Setorial: Cimento

  • Fernanda M. S Cardaci, Júlia Cavalheiro, Paulo Gonçalves E. Oliveira, Pedro Valim La Rosa
  • 11 de set. de 2024
  • 31 min de leitura

Atualizado: 16 de set. de 2024

Por: Fernanda M. S Cardaci, Júlia Cavalheiro, Paulo Gonçalves E. Oliveira, Pedro Valim La Rosa

História do setor


A palavra CIMENTO origina-se do latim CAEMENTU, que designava na velha Roma espécie de pedra natural de rochedos e não esquadrejada. Sua origem remonta a mais de 4.000 anos, com monumentos do Egito antigo utilizando uma liga constituída por uma mistura de gesso calcinado. As grandes obras gregas e romanas, como o Panteão e o Coliseu, foram construídas com o uso de solos de origem vulcânica da ilha grega de Santorino, ou das proximidades da cidade italiana de Pozzuoli, que possuíam propriedades de endurecimento sob a ação da água.


O grande passo no desenvolvimento do cimento se deu no ano de 1756, pelo inglês John Smeaton, tido como o pai da engenharia civil. Ele conseguiu obter um produto de alta resistência por meio de calcinação de calcários moles e argilosos. Em 1818, o francês Louis Vicat, considerado o inventor do cimento artificial, obteve resultados semelhantes aos de Smeaton, pela mistura de componentes argilosos e calcários. Seis anos após, o construtor inglês Joseph Aspdin queimou conjuntamente pedras calcárias e argila, transformando-as num pó fino. Percebeu que obtinha uma mistura que, após secar, tornava-se tão dura quanto as pedras empregadas nas construções e a mistura não se dissolvia em água. O construtor a patenteou no mesmo ano como cimento Portland, nome escolhido por apresentar cor, durabilidade e solidez semelhantes às rochas da ilha britânica de Portland.


No Brasil, estudos para aplicar os conhecimentos relativos à fabricação do cimento Portland ocorreram em 1888, quando o comendador Antônio Proost Rodovalho foi responsável pela instalação de uma fábrica na fazenda Santo Antônio, sua propriedade, situada em Sorocaba, município do estado de São Paulo. Várias iniciativas esporádicas de fabricação de cimento foram desenvolvidas nessa época.


No ano de 1892, chegou a funcionar durante poucos meses, uma pequena instalação produtora na ilha de Tiriri, na Paraíba, por iniciativa de Louis Felipe Alves

da Nóbrega, engenheiro com estudos na França e que chegou ao Brasil com novas ideias, tendo inclusive o projeto da fábrica pronto e publicado em livro de sua autoria. A distância dos centros consumidores e a pequena escala de produção foram os principais motivos do fracasso do empreendimento.


A usina de Rodovalho lançou em 1897 o cimento da marca Santo Antonio e operou até 1904, quando interrompeu suas atividades. Ela voltou três anos depois, mas experimentou problemas de qualidade e se extinguiu definitivamente em 1918.


Em Cachoeiro do Itapemirim, o governo do Espírito Santo fundou, em 1912, uma fábrica que funcionou até 1924, com precariedade e produção de apenas 8.000 toneladas por ano, sendo então paralisada, voltando a funcionar em 1935, após o processo de modernização.


Todas essas fases mencionadas não passaram de meras tentativas que culminaram, no ano de 1924, com a implantação pela Companhia Brasileira de Cimento Portland de uma fábrica em Perus, no estado de São Paulo. Essa construção é considerada como o marco da implantação da indústria brasileira de cimento. As primeiras toneladas foram produzidas e colocadas no mercado em 1926. Até então, o consumo de cimento no país dependia exclusivamente de importações. A produção nacional foi gradativamente elevada com a implantação de novas fábricas e a participação de produtos importados oscilou durante décadas seguintes, chegando quase a nulidade atualmente.

A indústria do cimento no brasil se deu início no final do século XIX, no estado da Paraíba, as produções do cimento se iniciaram no brasil junto com as indústrias têxtil e alimentícia.


Em São Paulo em 1897, a primeira fábrica de cimento foi construída, A Usina Rodovalho ela tinha como capacidade a produção de 25 mil toneladas, porém elas produções foram paralisadas e só voltou a funcionar em 1904, depois ela foi comprada pela Sociedade Anônima Fábrica Votorantim, mas a fábrica foi fechada em 1920.

A indústria do cimento teve alguns fatores que dificultaram a sua consolidação. Primeiramente a dificuldade de acesso de matéria prima, já que a produção depende do calcário e da argila, pois as unidades de reserva conhecidas, no século XX, eram distantes de São Paulo e do Rio de Janeiro, que eram onde se encontravam os principais consumidores. Outro problema para a época era o transporte dessas matérias primas, pelo custo ser muito alto. O principal dificultador para essa indústria se desenvolver no Brasil era que nessa época a importação de cimento não possuía tarifa alfandegária, o que desestimulava o início da indústria.


O setor industrial do cimento se instalou definitivamente no final da década de 1920 com a fábrica da Companhia Brasileira de Cimento Portland (CBCP), que pertencia à acionistas canadenses. Ela se instalou no Bairro Perus, um município de São Paulo, principalmente por o estado estar se tornando o principal polo urbanizado. Até 1925 todo o cimento usado era importado, por ser necessário um alto investimento em tecnologia para conseguir produzir em escala e competir no mercado.


No estado do Rio de Janeiro, em 1933 se instalou mais uma empresa com que pertence a Companhia Nacional de Cimento Portland (CNCP), que era uma das maiores produtoras nos Estados Unidos. Ao verem o sucesso dos empreendimentos, os empresários brasileiros passaram a investir no setor em meados da década de 30 e se inaugurou a primeira fábrica Votorantim S.A. com capacidade de produção de 175 mil toneladas. Foi uma fábrica de muito sucesso até os anos 90, pois houve um esgotamento das reservas de calcário.


Em 1930 o mercado interno era controlado pelos três produtores (CBCP, CNCP, Votorantim) em quase 80%. Ao longo das décadas a urbanização, crescimento populacional e a construção de rodovias levou a um alto crescimento da área da construção civil, o que estimulou ainda mais a entrada de novos grupos econômicos no setor do cimento, ampliando as empresas nacionais. Porém, durante a década de 30 as importações de cimento diminuíram por conta do aumento da produção, mas na década seguinte as importações voltaram a aumentar por conta do crescimento do consumo e o mercado nacional não estava dando conta.

Segundo dados do Ipeadata, entre 1901 e 1945 o consumo aparente de cimento no Brasil cresceu vertiginosamente, indo de 37,3 mil toneladas, em 1901, a 1.025,5 mil, em 1945. O consumo aparente é definido como a produção doméstica somada às exportações líquidas, ou seja, acrescido das importações e descontado das exportações.


Durante esse período, destacam-se algumas janelas de grandes oscilações. Por exemplo, entre 1905 e 1913, o consumo aumentou de 129 mil toneladas para 465 mil toneladas. Logo em seguida, entre 1914 e 1918, houve uma queda drástica, com o consumo reduzindo-se para 51,7 mil toneladas, menor valor registrado desde 1901. Nos dez anos subsequentes, houve um novo crescimento, com o consumo aparente atingindo 631 mil toneladas em 1929. Contudo, em 1931, ocorreu outra queda significativa, com o consumo caindo a 281 mil toneladas. Após esse período, observou-se um crescimento considerável até 1945, quando o Brasil chegou a consumir mais de 1000 mil toneladas em cimento.


Abaixo, um gráfico apresenta a evolução do consumo aparente de cimento no Brasil nos primeiros 44 anos do século XX.


Gráfico 1 - Consumo aparente de cimento entre 1901 e 1945.

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Fonte: SNIC, 2020.


Outro grande estimulante para o crescimento do setor no país, foi a contribuição do Estado, que em 1924 decretou privilégios para as empresas que produzissem pelo menos 30 mil toneladas de matéria prima e combustível nacionais. Dentre esses privilégios temos a isenção de tarifas aduaneiras sobre

máquinas e equipamentos, porém depois as importações só poderiam ser feitas de itens que não eram produzidos localmente. Além disso, as empresas tinham tarifas especiais de transporte e havia participação do Estado nas empresas por servirem como garantias de empréstimos. Essas vantagens aumentaram a oferta do produto no Brasil, porém as restrições geraram algumas deficiências no setor por tudo ter que ser feito localmente, poderiam ser usados utensílios melhores se pudessem importar.


Porém mesmo após essa evolução do mercado nacional, ainda dependíamos de importações para atender toda a demanda que estava tendo no país. No início dos anos de 1970, com o forte crescimento econômico do país, o setor do cimento teve um salto muito grande de 9,3 para 24,8 milhões de toneladas de cimento. Isso ocorreu por conta das políticas habitacionais que foram implementadas e por conta da urbanização, com construções de hidrelétricas, rodovias e pontes. Por muito tempo dependemos muito dos investimentos internacionais no setor, o que começou a perder força na década de 1940, e na de 70 os investimentos estrangeiros representavam 40% da produção.


Na década de 1980 o setor foi estagnado por conta da crise econômica de endividamento no nosso país, o que levou o governo a abandonar as políticas de desenvolvimento nacional, que foram citadas acima. A economia do setor só começou a voltar a crescer em 1996, chegando a produção de 40 milhões de toneladas. Porém no final da década de 1990 e no início do século XXI, novamente aconteceu a estagnação do consumo do cimento, por conta de falta de políticas de desenvolvimento atuais que entendiam as necessidades do setor para incentivo de construções


No ano de 2003 o desempenho econômico do setor teve um crescimento contínuo até o ano de 2009, que por conta da crise financeira internacional houve uma pequena contração da economia brasileira. A época de crescimento foi incentivada pelos projetos do Estado de construção de hidrelétricas e de programas habitacionais. Esse momento de ascensão trouxe novos grupos, investidores e a inauguração de novas fábricas de empresas já existentes.

Condições básicas


O cimento é um pó fino com propriedades aglutinantes que endurece sob a ação de água. Na forma de concreto, torna-se uma pedra artificial, que pode ganhar formas e volumes, variando de acordo com as necessidades de cada obra em que seja usado.


O cimento portland é um dos materiais de construção mais consumidos pelo homem. Isso se deve às suas características peculiares, como a maleabilidade, que confere a argamassas e concretos alta durabilidade e resistência a cargas e ao fogo. Além disso, o material resulta do processamento de matérias-primas abundantes em todo o planeta. Versátil, o cimento pode ser empregado tanto em peças de mobiliário urbano como em grandes barragens, estradas, edificações, pontes, tubos de concreto e telhados.


O mercado brasileiro de cimento dispõe de 8 opções de cimento. O cimento Portland comum (CP I) é referência, por suas características e propriedades, aos demais tipos básicos de cimento Portland. Esses tipos se diferenciam de acordo com a proporção de clínquer e sulfatos de cálcio e de adições como escórias, pozolanas e material carbonático acrescentadas no processo de moagem.


Os tipos podem variar também em função de propriedades como alta resistência inicial, coloração etc. O próprio Cimento Portland Comum (CP I) pode conter adição, neste caso, de 1% a 5% de material pozolânico, escória ou carbonato de cálcio e o restante de clínquer. Já o CPI-S pode conter de 6% a 10% de material carbonático.


O Cimento Portland Composto (CP II- E, CP II-Z e CP II-F) tem adições de escória, pozolana e fíler, respectivamente, porém em proporções maiores que no CP I e no CP I-S.


O Cimento Portland de Alto-Forno (CP III) e o Cimento Portland Pozolânico (CP IV) contam com maiores proporções de adições: escória, de 35% a 75% para o de Alto-Forno, e pozolana, de 15% a 50% para o Pozolânico.

As adições ao cimento melhoram as características do concreto e preservam o ambiente ao aproveitar resíduos, diminuir as emissões de gases e a extração de matéria-prima.


A partir de 2018, todos os tipos de cimento foram reunidos em uma única norma de especificação, a ABNT NBR 16697. Em que pese a possibilidade de se ajustar, por meio de dosagens adequadas, esses diversos tipos de cimento às mais diversas aplicações, a análise de suas características e propriedades mostra que certos tipos são mais apropriados para determinadas aplicações.


Demanda


O cimento é um bem muito requisitado e é o segundo material mais consumido pela humanidade, sendo superado apenas pela água. Do ponto de vista microeconômico, o cimento pode ser classificado como um bem intermediário ou de produção, por ser um insumo que será usado na produção de edifícios, rodovias, e outras infraestruturas.


A demanda do setor do cimento no Brasil está intimamente ligada aos ciclos econômicos do país. Em épocas de expansão econômica, há um aumento nas obras de construção, aumentando a demanda por cimento. Por outro lado, durante períodos de desaceleração econômica, a demanda por cimento tende a cair. Diferente de outros produtos que podem ser afetados por fatores climáticos, o cimento não apresenta sazonalidade devido ao clima, mas sim em função de ciclos econômicos, como já destacado.


O mercado imobiliário tem muita influência no setor do cimento, por conta das taxas de juros e as condições do mercado imobiliário que afetam as construções de novas moradias. O setor da engenharia civil também desempenha um papel fundamental no setor do cimento, influenciando na demanda do produto, isso porque sem os projetos da engenharia, o cimento não teria nenhum uso. Tornando o setor do cimento totalmente dependente da engenharia.

Oferta


A oferta de cimento depende da capacidade de produção das empresas, ou seja, a capacidade produtiva dos players de mercado determinam a quantidade de oferta. E o tamanho das fábricas depende da quantidade de investimento que elas possuem, que são impulsionados pelo aumento da demanda do setor.


Outro grande influenciador da demanda do cimento é a disponibilidade de matéria prima, é necessário uma abundância e acessibilidade para se ter uma alta produção. Isso depende de acesso a reservas de minerais, principalmente de calcário e argila, portanto normalmente as empresas se localizam perto das reservas. Outro ponto importante é a exploração sustentável, para garantir a disponibilidade contínua. A disponibilidade desses recursos determina parte dos custos de produção, aumentando ou não a oferta.


Elasticidade preço da oferta


O preço dos produtos é a principal variável na decisão da compra de um produto, ao analisarmos a elasticidade podemos mensurar quanto a variação dos determinantes influencia na quantidade ofertada do cimento.


A elasticidade preço da oferta no setor econômico de cimento no Brasil é feita para mensurar quanto às variações no preço influenciam na quantidade ofertada dos produtores de cimento. Ao analisarmos o setor do cimento temos diversos fatores para considerar, sendo eles, o custo dos insumos, que são utilizados na produção, como energia, combustíveis, e o principal é a matéria-prima, ao aumentar algum desses custos pode haver redução da oferta, a tornando menos elástica.


Outro fator que podemos citar é a tecnologia, investimentos e a eficiência produtiva, ao ter melhorias nesses pontos a elasticidade da oferta aumentaria e os produtores responderiam mais rapidamente a mudanças de preços.


Por último, outro grande influenciador da elasticidade preço da oferta são as regulamentações ambientais, de segurança e de saúde, pois eles podem impor custos adicionais aos produtores ou limitar a sua capacidade de produção. Por tanto

no brasil podemos ver que a elasticidade preço da oferta no setor de cimento é estabelecida por diversos determinantes


Elasticidade de renda e preço


A elasticidade da renda mede a quantidade demandada de um bem ou serviço em resposta à mudança na renda dos consumidores, com os preços constantes. No setor do cimento ela varia de acordo com o estágio de desenvolvimento econômico do país e das políticas de investimento em infraestrutura.


Em países desenvolvidos em que a infraestrutura é mais avançada a elasticidade da renda é menor, pois tem outros recursos, como a substituição de materiais, para garantir a eficiência do setor. Já em economias em desenvolvimento a mudança da renda muda mais drasticamente a demanda do setor, sendo que se houver aumento da renda, aumentará a demanda por cimento no país e vice-versa.


Estrutura do Setor Contexto


Para entender a estrutura do setor, é fundamental conhecer sua cadeia produtiva, que compreende o conjunto de atividades e etapas necessárias para transformar a matéria-prima no produto finalizado encontrado nas lojas. O primeiro passo consiste na aquisição dos insumos necessários para o início do processo produtivo, sendo os principais itens o calcário e a argila. Essa etapa será abordada na seção sobre barreiras de entrada, mas é importante notar que muitas das maiores empresas optam por explorar e extrair seus próprios materiais, possuindo jazidas de calcário, por exemplo.


Nas jazidas e pedreiras, o processo de extração envolve a mineração e trituração dos materiais brutos. Posteriormente, esses materiais passam por uma nova trituração até atingirem partículas de até três polegadas (7,6 cm) de espessura. Na segunda etapa, conhecida como moagem, o material triturado é misturado de acordo com a composição do tipo de cimento. A mistura mais comum é a 80-20, com 80% de calcário e 20% de argila, resultando na chamada farinha crua.


O terceiro e principal passo consiste em expor essa mistura a altas temperaturas. Para isso, são utilizados altos fornos rotativos que elevam a temperatura até 1.510°C, ponto em que o clínquer, forma base do cimento, é formado a partir da decomposição da calcita e de sua reação com a sílica. A quarta etapa envolve não apenas o resfriamento do clínquer obtido, mas também a incorporação de novos materiais que diferenciam o cimento, conforme apresentado anteriormente no tema “Condições Básicas”. Ademais, feita essa adição, ainda com o clínquer quente, é realizada uma última moagem para transformar esse novo amálgama de materiais em um clínquer homogêneo. Por fim, após o resfriamento da mistura, o cimento está pronto para ser embalado e transportado até o ponto de venda.


Imagem 1. Cadeia Produtiva do cimento

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Fonte: (ABCP. 2017, p.19)


A estrutura do setor, diferentemente de um setor de construção civil, a qual é bem diluída, é mais concentrada, podendo ser enquadrado como um oligopólio

concorrencial. De acordo com a Cimento.org, em 2023, o mercado de cimento nacional era composto pelas empresas abaixo:


Gráfico 2 - Maiores grupos cimenteiros no Brasil em 2023 (em capacidade instalada)

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Fonte: Cimento.org (2023)


Como podemos ver pelo gráfico de barras, a Votorantim é a maior empresa do setor, tendo mais que o dobro de capacidade de produção que a segunda e terceira colocada, respectivamente Intercement e CSN Cimentos. Utilizando a capacidade instalada em milhões de unidades para calcular o Índice CRk dos 5 maiores players, temos:


CRk (5) = 34,9 + 16 + 15,8 + 8,4 + 7 = 77,23%

106,3


Esse indicador demonstra que o setor, embora possua um alto nível de concentração, tendo em vista 5 empresas são responsáveis por pouco mais de ¾ do mercado de cimentos, ainda há espaço para a concorrência, seja para ocupar o ¼ restante ou tentar conquistar o market share de alguma das “big fives”. Adiante, ao tratar das características das principais empresas, bem como um panorama do setor, procuraremos algo que explique essa relação, como por exemplo a força de cada empresa em uma região específica.


Um gap encontrado nesse método de medição é relacionado ao que ocorre nos corredores do mercado, ou seja, tudo que escapa das cinco maiores empresas (número escolhido para o foco do estudo, não é contemplado na análise. Por isso, para preencher essa lacuna, será utilizado o Índice Herfindahl-Hirschman (IHH), que leva em consideração todas as empresas do mercado, desse modo, o mesmo será utilizado para análise comparativa do setor e não objetiva como o índice CRk calculado anteriormente.


Para as 10 empresas do setor, utilizando novamente a capacidade instalada em milhões de unidades como métrica para o cálculo, o IHH apresenta o seguinte formato:


IHH (10) = (34,9)² + (16)² + (15,8)² + (8,4)² + (7)² + (5,6)² +(3,9)² + (3,6)² + (2,7)² + (8,4)² = 1.980,59.


Esse resultado reforça a tese de que, mesmo o setor sendo concentrado e possuindo três empresas com uma parte extremamente significativa do mercado, existem players se movimentando “ao redor dos holofotes”. Isso indica uma competição pela parte não dominada pelas “big three”, sendo elas a Votorantim, Intercement e CSN Cimentos.

Calculado esses índices, para entender mais aprofundadamente sobre o setor, o próximo tópico será destinado ao estudo das 5 principais empresas do setor cimentício.


Empresas do setor


O objetivo desse tópico é analisar similaridades entres os principais players, bem como seu tamanho, capacidade produtiva e se possuem operacionalidade apenas no Brasil, além de citar um pouco sobre sua história.


Votorantim Cimentos

A Votorantim Cimentos é uma empresa dedicada à produção de cimentos e outros materiais de construção, como argamassas, concretos e impermeabilizantes.

Iniciou suas operações em 1933, com sua primeira fábrica, a Fábrica de Cimentos Santa Helena, na cidade de Votorantim, interior de São Paulo. Em 1977, a empresa consolidou sua posição no mercado nacional, com aproximadamente 36% do market share do setor cimentício e 11 fábricas distribuídas pelo Brasil. Em 1997, a empresa começou seu processo de internacionalização, comprando ativos na Bolívia e, após essa compra, expandiu-se para a América do Norte, América do Sul, Europa, Índia e China.


A Votorantim Cimentos é um braço da Votorantim S.A., holding que controla a empresa e também possui atuação em diversos setores, como energético (Auren Energia), agrícola (Citrosuco) e financeiro (Banco Votorantim).


Segundo o site da empresa, ela está presente em 11 países, atuando em quase todos os continentes, o que lhe rendeu, em 2016, o título de 7ª maior empresa do mundo no setor, de acordo com o Global Cement Report. Em 2023, a empresa possuía uma capacidade de produção de cimento de 57,3 milhões de toneladas ao redor do mundo, vendendo um total de 37 milhões de toneladas de cimento no mesmo ano.


A empresa possui algumas marcas de cimento, como Votoran, Itaú, Poty e Tocantins. Todas essas marcas atuam nas três divisões de negócio da empresa, chamadas de “todas as obras”, “obras estruturais” e “obras especiais”, onde a diferença de cada tipo de obra se dá pela resistência e secagem do cimento.


Por fim, ainda em 2023, a Votorantim Cimentos obteve uma receita líquida de 26,7 bilhões de reais.


Intercement

A Intercement iniciou suas operações no Brasil em 1974 e, já na década de 1990, possuía uma capacidade produtiva de 2 milhões de toneladas por ano. Ainda nos anos 90, após a compra da marca Cauê Cimentos, a Intercement dobrou seu market share no mercado nacional, atingindo 10%. Um dos principais movimentos da empresa foi a aquisição da Loma Negra, a principal empresa do ramo cimentício da Argentina, bem como a abertura do seu processo de internacionalização, entrando nos mercados do Paraguai e Moçambique e alcançando a liderança nos mercados da África do Sul e Egito. Em 2011, o nome Intercement foi criado para transmitir uma nova identidade à marca, devido ao processo de internacionalização; antes disso, a empresa era conhecida como Camargo Côrrea Cimentos.


Segundo o site oficial da empresa, a Intercement Brasil possui 15 fábricas no país, com uma capacidade de produção de 17,2 milhões de toneladas por ano. A empresa, controlada pela Mover Participações, vem se desfazendo de seus ativos nacionais e internacionais para abater sua dívida. Atualmente, a empresa está buscando vender 100% de seus ativos, incluindo as participações restantes no exterior, como os 52% da Loma Negra, bem como sua operação no Brasil. Por fim, a empresa possui em seu portfólio marcas de cimento como Cauê, Zebu e Goiás.


CSN Cimentos

A CSN Cimentos, controlada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), entrou no mercado de cimentos em 2009. Antes disso, a CSN estava presente nos setores de aço e ferro, energia e exportação mineral. Para a empresa, a criação dessa ramificação gera uma vantagem competitiva, uma vez que é possível reaproveitar as sobras de material (escória) geradas nos processos siderúrgicos dos alto-fornos da Usina Presidente Vargas e do clínquer produzido na instalação de Arcos, junto à mina de calcário. Em 2015, a CSN Cimentos atingiu uma capacidade produtiva de 4,3 milhões de toneladas por ano, com sua nova fábrica em Arcos, localizada no Estado de Minas Gerais.


Suas fábricas estão espalhadas pelo território brasileiro, mas são mais concentradas na região Sudeste, resultado dos principais processos de incorporação de empresas concorrentes, como Elizabeth Cimentos e Elizabeth Mineração, ambas com maior presença no Nordeste, e LafargeHolcim. Atualmente, a empresa possui 19 unidades de cimento e 6 de agregados, oscilando entre o segundo e o terceiro lugar em capacidade produtiva total. Ademais, em seu portfólio, a empresa possui as marcas de cimento CSN, Mauá, Elizabeth e Montes Claros.


Em 2022, a empresa desistiu de seu IPO na bolsa de valores devido a “condições adversas no mercado interno e internacional”, conforme relatado na matéria do site Seu Dinheiro. Desde então, não houve novidades sobre a possível entrada da empresa na bolsa de valores, de forma independente da CSN (CSNA3).

Cimento Nassau

A empresa, fundada em 1951 por João Pereira dos Santos, em seu auge, ocupou 13% do market share nacional. Com instalações principalmente no Nordeste, a empresa operava 11 fábricas de cimento. Após a morte do fundador, os herdeiros iniciaram uma guerra sucessória pelo controle da empresa. Além das crises familiares, a empresa foi acusada de sonegação de impostos e, pela Justiça do Trabalho, de não pagamento dos funcionários, com relatos de atrasos desde 2016.


Esse conjunto de problemas resultou em uma dívida de 8,6 bilhões de reais e no pedido de recuperação judicial por parte da empresa. As últimas informações indicam um aporte bilionário da operadora de crédito Quadra, destinado a suprir as necessidades financeiras dessa recuperação judicial.


Mizu Cimentos (grupo polimix)

O Grupo Polimix, criado em 1976 e atuante em diversos nichos de mercado, como concreto, cimentos, argamassa e agregados, criou em 1998 a ramificação Mizu, responsável pelo setor cimentício da companhia. Com instalações em 13 estados, principalmente no Nordeste e no Sudeste, a Mizu possui atualmente uma capacidade de produção de 7 milhões de toneladas de cimento por ano.


Em 2024, a empresa relatou em uma matéria da 93 Notícias a retomada e modernização de uma fábrica de cimentos em Sergipe, desativada desde 2015. Essa unidade aumentará a capacidade produtiva em mais 1 milhão de toneladas por ano. Essa capacidade adicional atenderá não apenas o estado de Sergipe, mas também será comercializada na Bahia, Alagoas e Pernambuco.


Consolidação das principais características


De acordo com a amostra de empresas apresentadas, algumas características podem ser observadas e interpretadas como principais do setor. O primeiro fator característico é com relação a atuação dos agentes, que embora possuam unidades fabris ou de extração ao redor do país, costumam atuar em escalas mais regionais, como por exemplo a CSN que possui uma presença significativa no sudeste brasileiro. A exceção à regra é a Votorantim, que atua em todas as 5 regiões do país.

Outra característica, segundo a Cimento.org, se deve ao fato do mercado cimentício possuir uma imensa pressão de custos, onde mais de 50% do custo direto do produto é definido pelo combustível utilizado para transporte e escoamento do produto e da energia elétrica utilizada no processo produtivo do cimento.


Embora as empresas citadas anteriormente possuam um capital sumariamente nacional, há uma presença relativamente forte de capital estrangeiro entre as cimenteiras, principalmente de forma indireta, onde um grupo estrangeiro compra a cimenteira brasileira, vide Ciplan e Cimento Nacional, adquiridas parcialmente por grupos estrangeiros, sendo eles franceses e italianos. Como pode-se ver na Imagem 2, a Cimento Nacional, propriedade parcial do grupo italiano Buzzi, é a sexta maior empresa do setor. Além disso, a Ciplan, oitava maior empresa do setor, teve 65% do seu controle adquirido pelo grupo Vicat, da França, que atua em mais de 10 países.


O setor também exige uma necessidade constante de investimentos, não apenas o inicial para aquisição de máquinas e equipamentos, mas também em desenvolvimento de novas tecnologias para aumentar a produtividade, evitar desperdícios e, mais recentemente, para transformar a indústria do cimento em um desenvolvimento mais verde. Em maio de 2024, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MIDC) iniciou um cronograma de reuniões com os setores denominados “hard to abate”, ou seja, setores de difícil abatimento de carbono, com o intuito de descarbonizar a indústria nacional. Tal pauta não é exclusividade do Brasil, tendo em vista que a World Cement Association (WCA) já tem atuado na difusão de ideias e planos para reduzir a emissão de carbono pelas indústrias cimentícias.


A tendência a verticalização da cadeia produtiva do cimento, desde a extração das matérias primas até a distribuição, é outra tendência observada entre as empresas, ponto esse diretamente ligado com uma das barreiras de entrada que serão abordadas no próximo capítulo.


Barreiras de entrada


O setor cimentício apresenta duas principais barreiras de entrada. A primeira delas é com relação à aquisição de matérias primas. Para materiais mais

abundantes na natureza, como a argila, a empresa consegue encontrar fornecedores, dependendo da capacidade operacional da empresa, poderá exercer maior poder de barganha com o fornecedor. Contudo, o calcário, uma das principais matérias primas para a produção de cimento, não possui uma ampla variedade de fornecedores, tendo em vista que o mesmo precisa possuir uma ótima qualidade para ser utilizado no processo de produção, desse modo, para manter controle da qualidade e aumentar potenciais resultados, as empresas acabam por procurarem suas próprias jazidas.

Como todos os minerais existentes na nação pertencem ao Estado, conforme a Lei de n° 227 de 1967, cujo primeiro artigo diz:


“Art.1° Compete à União administrar os recursos minerais, a indústria de produção mineral e a distribuição, o comércio e o consumo de produtos minerais.”


Lei essa complementar ao antigo código de Minas de 1940, o qual norteia todo o comportamento do Estado perante os assuntos de jazidas minerais, de petróleo e de água, permanecendo vigente na Constituição de 1988 através do de seu artigo 20:


“Art.20 São bens da União: IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo.”


Para as empresas conseguirem o acesso a uma nova jazida, precisarão, conseguir um alvará junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), alvará esse, a priori, para obter licenças preliminares para pesquisa do material e viabilidade de exploração econômica futura, sendo repassado ao DNPM se a pesquisa contendo os resultados positivos ou negativos do estudo. Ademais, além da lacuna temporal para que ocorra essa liberação de licença de exploração,, também será necessário um relatório de impacto ambiental da atividade empresarial demonstrando por exemplo o que acontecerá com a fauna local, para onde será remaneja, bem como as medidas que a empresa responsável utilizará para lidar com aspectos de reflorestamento, emissão de carbono e etc. Além disso, são necessárias a realização de algumas audiências públicas, para que a população ao

redor expresse suas opiniões referentes a implantação de uma fábrica na região, seja da exploração da jazida (próxima a alguma cidade) e/ou a fábrica que lida com os outros processos produtivos do cimento.


O segundo ponto de barreira de entrada é referente aos altos investimentos iniciais, uma vez que grande parte dos maquinários utilizados não são produzidos no Brasil, além do setor requerer constantes investimentos para aumento de produtividade. Além disso, vale ressaltar que a produção em pequena escala do cimento é inviável, sendo necessário que a planta industrial seja relativamente grande para comportar essa produção.


Conduta


Clientes


Sobre a diversificação de clientes, as fabricantes de cimento possuem algumas frentes de atuação, sendo elas a comercialização com os revendedores, que são as lojas de varejo que costumam repassar esses produtos para as pessoas físicas, como a Leroy Merlin e C&C. Outro tipo de cliente que essas empresas possuem são os clientes industriais, clientes que utilizam o cimento como matéria prima para confeccionar seus produtos, como por exemplo as concreteiras, empresas responsáveis pelo início da fabricação do concreto e criação de alguns tipos de argamassa. Por fim, existem os consumidores finais, sendo eles as empreiteiras, construtoras, incorporadoras e o próprio governo, que trabalham com projetos de construções de edifícios e em obras de infraestrutura.


Abaixo, a imagem 3, demonstra a quantidade que cada um desses clientes representam do total de distribuição de cimento portland no ano de 2023, entre os meses de janeiro e setembro:

Imagem 3 - Distribuição e consumo do cimento ao redor do país

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Fonte: SNIC, 2023


Com base na imagem, nota-se que os revendedores representam um pouco mais de 50% do total de cimento portland distribuído no Brasil no período descrito, indicando que a fabricante de cimento, por si só, não é responsável por grande parte do comércio deste produto. Referente a distribuição geográfica do consumo, a região Sudeste e Nordeste concentram os maiores números de consumo, sendo eles também os dois principais pólos de concentração das fábricas de cimento.


Estratégia “anti-competidores”


Visando a dimensão do setor de cimento e o alto nível de competição e barreiras à entrada que ele impõe, o cenário de cartel se instaurou nesta indústria a anos e, por conseguinte, o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) passou a atuar e impor medidas sobre o setor para amenizar o poder de cartel instaurado pelos players.


Ademais, ao longo dos anos, as empresas cimenteiras passaram a colocar em prática atividades de cartel. Isto é, passaram a combinar e fixar preços, estipularam quantidades de vendas, elevaram as barreiras à entrada para novos concorrentes e dividiram o mercado entre si, estipulando “praças” e dominantes em áreas do Brasil. Desse modo, o CADE condenou seis empresas do setor de cimentos (PA nº 08012.011142/2006-79), sendo a Votorantim Cimentos, a Holcim, a Intercement, a Associação Brasileira de Cimentos e a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem, a pagarem uma dívida de R$ 3,1 bilhões e exigindo a vendas de ativos por formação de cartel, além de restringir venda de fábricas e impôs limitações em operações no ramo do cimento e concreto até o ano de 2019.


Segundo o CADE, o movimento de cartel trouxe impactos prejudiciais ao consumidor, visto que o preço dos produtos sofreram um aumento artificial de 10% a 20%, o que impactou a economia brasileira em R$28 bilhões em, pelo menos, 20 anos de funcionamento. Dessa forma, para amenizar os impactos, a ação de transacionar ativos exigiu das cimenteiras e concreteiras a venda de plantas para diminuir a barreira à entrada e rivalidade dentro dos setores. Além disso, as empresas de cimento condenadas precisaram desfazer completamente suas participações em outras empresas do setor e vender 20% da capacidade de produção de concreto em áreas onde possuem mais de uma fábrica. Esses ativos só podiam ser vendidos individualmente ou em conjunto para compradores que não estejam envolvidos no esquema cartelizado.


Entretanto, apesar de terem alienado 20% da capacidade de produção, que tem como base análises técnicas de ser o mínimo necessário para uma competição efetiva em um mercado, de acordo com órgãos antitruste, o conselheiro do CADE, Márcio de Oliveira Júnior, em 2014 afirmou que “A conduta do cartel cessou na data da busca e apreensão, mas os efeitos do cartel ainda perduram até hoje, já que não houve alterações da estrutura do mercado de cimento”. Ou seja, apesar das tentativas de suprimir o cartel no setor cimenteiro, elas não serão efetivas visto a dificuldade de alterar de forma agressiva a estrutura que as grandes empresas impõem e sua influência, sendo efeitos visíveis até os dias atuais.


Fatos relevantes do setor


O setor cimentício obteve algumas notícias, de fusões, vendas e aquisições que vêm aquecendo o setor. A CSN Cimentos, em 2021, comprou a Elizabeth Mineração e a Elizabeth Cimentos, empresas que possuem maior presença na região Nordeste, principalmente nos Estados da Paraíba e Pernambuco, além de

possuir jazidas de calcário nos Estados de Sergipe, Pará e Ceará. Essa aquisição custou para a CSN R$1,03 bilhões, o que permitiu o aumento da capacidade de produção da empresa em 1,3 milhões de toneladas/ano, passando a possuir uma capacidade de 6 milhões/ano, consolidando a 5ª maior empresa do setor. Segundo o “Fato Relevante” disponibilizado pela CSN, a compra foi motivada por um movimento estratégico da empresa na expectativa de uma recuperação do segmento no país onde a empresa conseguirá assumir um papel de destaque no setor.


Ainda em 2021, a mesma CSN Cimentos comprou a Lafarge Holcim Brasil (empresa subsidiária brasileira do grupo suíço e importante player no mercado cimentício) por R$5,35 bilhões. Essa compra, além de aumentar a capacidade produtiva da CSN Cimentos em 10,3 milhões de toneladas, lhe concedeu 5 fábricas de cimento, 4 estações de trituração, 6 centros especializados em grânulos e 19 centros de concreto. Tal aquisição permitiu a empresa entrar no top 3 do ranking das maiores cimenteiras, com um total de capacidade produtiva de 16,3 milhões de toneladas/ano, ficando atrás somente da Votorantim Cimentos e da Intercement.


De acordo com a matéria da Suno, para a Holcim, esse processo de desinvestimento do setor permite à empresa focar em setores com margens mais atrativas, bem como em investimentos com maior potencial de crescimento. Exemplo disso seria a compra feita anteriormente pela Holcim no setor de impermeabilizantes para telhados, por meio da empresa Firestone Building Products. Enquanto para a CSN Cimentos é uma forma de ganhar capilaridade em território nacional, bem como aumentar sua participação.


Em 2022, por meio de seu site oficial, a Votorantim Cimentos informou que adquiriu uma série de ativos no sul da Espanha, sendo a aquisição da Heidelberg Materials. Essa aquisição garantiu a Votorantim Cimentos, aquém de uma maior presença na península Ibérica, uma fábrica em Málaga, três mineradoras de agregados e 11 usinas de concreto na região da Andaluzia. Hoje, de acordo com a Fundación Laboral del Cemento y el Medio Ambiente, fundação responsável pelo monitoramento desse setor na Espanha, em seu site oficial, a Votorantim possui uma capacidade produtiva de 7.075 milhões de toneladas de cimento/ano

Para 2024, a Intercement já recebeu algumas ofertas para venda total de seus ativos para os concorrentes. No caso, a empresa encontra-se com uma dívida líquida quase que impagável, na casa dos R$8 bilhões, dívida essa que a empresa tenta controlar desde 2018, vendendo alguns ativos, tanto em território estrangeiro quanto em terras nacionais. Dentre alguns dos players interessados pela aquisição da empresa, temos a Votorantim Cimentos, CSN Cimentos e o Grupo Polimix.


Caso a CSN compre os ativos da Intercement, além de ganhar exposição no mercado argentino, a empresa também dobraria de tamanho, podendo se tornar a líder no setor de cimentos e concretos no país, operando assim 28 unidades cimenteiras em território nacional.


Desempenho


Em dezembro de 2023, as vendas de cimento no Brasil totalizaram 4,5 milhões de toneladas, um aumento de 0,3% em relação ao mesmo mês de 2022. Com esse resultado, o setor fechou 2023 com um total de 62 milhões de toneladas de cimento vendidas, apresentando uma retração de 1,7% em relação ao ano anterior.

No acumulado do ano, todas as regiões do país, exceto o Nordeste, apresentaram queda nas vendas, influenciadas por mudanças climáticas, como chuvas intensas no Sul e Sudeste e seca no Norte. Além dos fatores climáticos, parte do mau desempenho pode ser atribuído ao baixo volume de investimentos em infraestrutura por parte do governo federal. Segundo relatório divulgado pelo SNIC, em 2023, o governo relançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com previsão de desembolso de R$1,4 trilhão entre 2023 e 2026. Entretanto,o programa não tomou a velocidade necessária e já sofreu cortes para o orçamento de 2024.


Lucratividade média das principais empresas do setor


InterCement

Em função da homogeneidade do cimento comercializado, a lucratividade média das empresas varia de acordo com o preço do mesmo. Em 2023, segundo demonstração financeira auditada disponível no site da própria companhia, a

InterCement apresentou um prejuízo líquido de 394 milhões de reais, revertendo um lucro líquido registrado em 2022 de 64 milhões de reais. Dentre os principais players, a InterCement é a que apresenta os piores resultados, principalmente pelo alto endividamento, que gira em torno dos cinco bilhões de reais.


Votorantim Cimentos

A Votorantim Cimentos, por outro lado, é uma empresa que vêm apresentando bons resultados, se consolidando a maior empresa de cimento do mercado brasileiro. Apoiada em melhorias operacionais e financeiras, a Votorantim Cimentos teve lucro líquido de 2,6 bilhões de reais em 2023, mais que o dobro em relação ao 1,1 bilhão de 2022.


O presidente-executivo da companhia, Osvaldo Ayres Filho, afirmou que espera um crescimento no mercado brasileiro em 2024, principalmente com a queda das taxas de juros prevista para os próximos anos. A expectativa da empresa é que o mercado brasileiro de cimento cresça 2% este ano, em linha com projeção da entidade que representa o setor, Snic. O setor registrou queda de 1,7% nas vendas em 2023.


A maior produtora de cimento no país teve um resultado operacional medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) ajustado em alta de 18% no ano passado, atingindo recorde de 5,8 bilhões de reais. O desempenho foi atribuído parte a uma "gestão de margens" nas operações na América do Norte e na região compreendida por Europa, Ásia e África. "A tendência é uma relativa estabilidade nos volumes (de vendas)", disse Ayres Filho sobre o mercado global este ano. Além do Brasil, a Votorantim Cimentos atua em oito países, incluindo Estados Unidos, Canadá, Espanha e Turquia.


A Votorantim Cimentos apresentou uma oferta de aquisição de parte dos ativos da Intercement Brasil, mas o executivo não deu detalhes sobre os alvos ou quando o processo poderá ser concluído. A Intercement, do grupo Mover, também é disputada pela rival CSN, hoje a segunda maior produtora de cimento do Brasil.


Enquanto tenta expansão por via inorgânica, a Votorantim Cimentos também já colocou em marcha plano de investimento de 5 bilhões de reais até 2028. O plano vai aumentar em 3 milhões de toneladas a capacidade atual da empresa de 34,4 milhões de toneladas por ano no Brasil.


O investimento, que inclui outras frentes de busca de eficiência, poderá elevar o EBITDA da companhia em 50% até 2028, afirmaram executivos. Dentro dele estão iniciativas como contração de energia de parque fotovoltaico em Minas Gerais, que deverá elevar a participação de fontes renováveis na matriz energética da companhia no Brasil de 49% em 2023 para 76% em 2026.


Nos EUA e Canadá, mercado que, segundo a companhia, está vivenciando um ciclo positivo com altos preços e demanda estável, a Votorantim Cimentos também aumentará capacidade. A ampliação se dará no Canadá, com adição de 1 milhão de toneladas anuais em instalações atuais da companhia, disse o executivo. O projeto de ampliação deve entrar em operação em 2026. Na região, a empresa tem atualmente capacidade para 8,2 milhões de toneladas de cimento por ano.


CSN Cimentos

A CSN Cimentos, controlada pelo grupo CSN, é uma empresa que vem crescendo muito nos últimos anos. Com grande expansão no mercado doméstico, impulsionado por recentes aquisições como a da Lafarge e da Elizabeth, ambas já mencionadas no presente estudo, a CSN Cimentos tornou-se a segunda maior produtora de cimento do Brasil, ficando atrás apenas da Votorantim. Segundo demonstração financeira disponível em seu site, em 2023, a CSN Cimentos comercializou cerca de 12.770kton, apresentando um aumento de 75,8% frente a 2022.


Empregabilidade do segmento


O setor de construção civil, cujo a indústria de cimento está altamente relacionada, emprega uma parcela significativa da população brasileira. Segundo informações da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, em janeiro de 2020, cerca de 2 milhões e cinquenta mil pessoas estavam empregadas formalmente no setor de construção civil brasileiro. Meses depois, em meio a pandemia do COVID-19, esse número caiu, principalmente nos meses de março, abril e maio. Contudo, o ano terminou com um número expressivo de 2 milhões e 400 mil empregados formais.Os anos posteriores também tiveram aumento gradual. Em 2023, mesmo com quedas nos últimos meses, se encerrou com mais de 2 milhões e 700 mil brasileiros empregados formalmente.


Segundo site do SNIC, estima-se que, em 2022, o setor de cimento tenha empregado de forma direta cerca de 18 mil pessoas.


Perspectivas futuras


Após dois anos consecutivos de queda, a indústria brasileira estima um crescimento em 2024, impulsionada por avanços em projetos de infraestrutura e desenvolvimento urbano, principalmente nas áreas de habitação e saneamento.


No setor habitacional, o sistema construtivo de Paredes de Concreto, utilizado em programas como o Minha Casa Minha Vida, destaca-se em função da sua padronização e rapidez, chegando a ser três vezes mais ágil que o sistema convencional. Dessa forma, as construtoras conseguem atender projetos em prazos apertados repetidas vezes.

No que tange às rodovias, o Brasil possui a quarta maior malha rodoviária do mundo com mais de 1.7 milhão de quilômetros de estradas, das quais apenas 12,4% são pavimentadas. Com isso, vê-se uma oportunidade para a indústria cimenteira. Entretanto, cabe também aos governos estaduais canalizar esforços na implementação de pavimentos rígidos em estradas ainda não pavimentadas.


Para as cidades, o setor de cimento atua nos sistemas construtivos que atendem às necessidades locais de infraestrutura, melhorando a mobilidade urbana, saneamento, espaços públicos e habitação. Por exemplo, o Hub de Inovação e Construção Digital (HubiC), da Escola Politécnica da USP, foca no desenvolvimento de projetos de cimento e concreto mais eficientes e sustentáveis.


A perspectiva para os próximos anos é positiva, fundamentados pelo crescimento da massa salarial e o aumento da oferta de crédito cativado pela flexibilização monetária e por programas como o “Desenrola” e o Marco Legal das Garantias de Empréstimos. Com a expectativa de queda inflacionárias e da redução da taxa de juros, espera-se um estímulo à atividade econômica e aumento da arrecadação governamental.

O setor de saneamento prevê investimentos próximos a 27 bilhões de reais em 2024, enquanto o setor habitacional, por sua vez, estima uma demanda girando em torno das 2,5 milhões toneladas de cimento. Projeções do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) apontam uma retomada de crescimento na demanda de cimento, com expectativa de alta em torno de 2%, com o êxito de programas focados em habitação, saneamento e logística.


No entanto, há fatores que podem continuar pressionando a demanda por cimento, como o endividamento das famílias, especialmente no segmento de autoconstrução, que representa mais de 30% do consumo de cimento no Brasil. Em 2023, a capacidade ociosa do setor foi de 34,1%, com as vendas totalizando 62 milhões de toneladas.


A indústria cimenteira vem investindo na redução de emissões de carbono, principalmente através do coprocessamento de resíduos nos fornos de produção do cimento. Aprovada ao final de 2023 pela Câmara dos Deputados, a regulamentação do mercado de carbono é aguardada com expectativa pelo setor, que atingiu 30% de participação de coprocessamento na matriz energética, antecipando a meta estabelecida para 2025. A média mundial de emissões de CO2 da indústria é de 610 quilos por tonelada de cimento, enquanto no Brasil, é de 560. O setor planeja atingir a neutralização de emissões até 2050.

Referências

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