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Análise Setorial: Comércio Marítimo

  • Alexandre Conchon, Fabrizzio Baldoino, Guilherme Dalben, João Assis, Nicolas Gallani
  • 16 de set. de 2024
  • 15 min de leitura
Por: Alexandre Conchon, Fabrizzio Baldoino, Guilherme Dalben, João Assis, Nicolas Gallani

1.  INTRODUÇÃO

 

O setor de frete marítimo desempenha um papel crucial na economia global, facilitando o intercâmbio de mercadorias entre continentes e impulsionando as cadeias de suprimentos internacionais. Este segmento é dominado por empresas especializadas em operações de transporte de carga que gerenciam extensas frotas de navios responsáveis pelo trânsito de uma vasta gama de produtos, desde commodities básicas até bens de consumo eletrônicos. Esse tipo de comércio utiliza os recursos naturais aquáticos, como mares, rios, canais e lagos como rotas de transporte.


O comércio marítimo é uma parte vital da economia global, com mais de 50 mil navios mercantes operando em mais de 150 países. Estima-se que esses navios sejam responsáveis por transportar mais de 90% do comércio internacional, de acordo com a Organização Marítima Internacional (OMI).


Quando se trata de transporte intercontinental, é amplamente preferido em relação ao aéreo devido a uma série de vantagens. Primeiramente, apresenta custos significativamente mais baixos, especialmente para cargas pesadas e volumosas, reduzindo consideravelmente o custo por tonelada transportada. Navios também possuem maior capacidade e permitem maior diversidade de carga, transportando contêineres, veículos, petróleo, gás e cargas a granel, que seriam inviáveis ou muito caras de transportar por via aérea. Por ser mais eficiente em termos de consumo de combustível por tonelada de carga, é a opção mais sustentável financeira, econômica e ecologicamente para longas distâncias, apesar de viagens mais longas.


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Fonte: MIT Climate Portal e GeogTransSys. Elaboração própria


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Fonte: Research Gate. Acesso em 26/05/2024


2.  HISTÓRICO DO SETOR

 

A evolução tecnológica e institucional no setor marítimo, ao longo da história, é marcada por significativos avanços tecnológicos e regulamentações que adaptaram o setor às necessidades crescentes de segurança e eficiência em um contexto global.


Os primórdios da navegação internacional remontam à antiguidade, quando as civilizações marítimas, como os fenícios, gregos e romanos, começaram a explorar e comerciar além de suas fronteiras geográficas, utilizando os mares como vias de conexão entre diferentes culturas e economias. Essas primeiras rotas marítimas facilitaram não apenas o comércio, mas também a troca cultural e tecnológica, estabelecendo as bases para a interconexão global futura.


No século XIX, um marco relevante foi a implementação das Regras de Colisão de 1863, as primeiras regulamentações de abrangência global para a segurança marítima, que estabeleceram normas sobre luzes de navegação noturna, sinais de nevoeiro e diretrizes de direção para evitar colisões. Esta regulamentação refletiu a necessidade de normas internacionais que se adequassem ao avanço das tecnologias de navegação, como navios a vapor e cascos metálicos.


O século XX foi marcado pela fundação da Organização Marítima Internacional (OMI) em 1948, tornando-se o principal órgão regulador do transporte marítimo internacional. As regulamentações e diretrizes estabelecidas pela OMI abrangem segurança, aspectos ambientais, questões jurídicas e cooperação técnica, contribuindo para a uniformização das práticas marítimas em escala global.


Na década de 1990, o Código Internacional de Segurança Marítima (ISM), introduzido em 1993 e tornado obrigatório em 2002, significou outro avanço importante. O código impôs normas rigorosas para a gestão de segurança operacional e prevenção de poluição, tornando-se um referencial para a navegação segura e eficiente em águas internacionais.


Esses marcos não só destacam a evolução do setor marítimo desde as práticas comerciais e exploratórias antigas até as regulamentações internacionais contemporâneas, mas também refletem como a navegação marítima tem sido uma força motriz para o desenvolvimento econômico e a integração global ao longo dos séculos. A indústria continua evoluindo com a adoção de novas tecnologias e inovações, enfrentando os desafios de sustentabilidade, segurança e eficiência no cenário internacional moderno.


3.  CONDIÇÕES BÁSICAS

 

A capacidade global da frota tem aumentado significativamente, com uma expansão média anual de 3,4% entre 2019 e 2023. O crescimento dos volumes de comércio marítimo, por outro lado, foi de apenas 0,6% no mesmo período. Ainda que os números indiquem excesso de oferta, temos visto um aumento nas taxas de frete.


Em 2022 o índice ClarkSea, utilizado para medir as taxas de frete agregadas de diferentes classes de navios e tido como um medidor de rentabilidade e saúde financeira do setor, atingiu seu nível mais alto desde 2007.


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Fonte: Ship Finance Danish. Acesso em 25/05/2024

 

 

As tensões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia e outras sanções, resultaram em distâncias de viagem mais longas e ineficiências infraestruturais em muitos segmentos de transporte. Esses fatores têm reduzido a capacidade efetiva de transporte da frota mundial e mantiveram as taxas de utilização da frota altas, mesmo em um ambiente de excesso de oferta. A redistribuição das rotas comerciais devido a sanções e tensões geopolíticas também têm criado uma demanda adicional por capacidade de transporte. Segundo o Ship Finance, distâncias de viagem mais longas adicionaram o equivalente a 1 p.p. por ano para a demanda de navios durante o período.


Essa dinâmica indica que a oferta no setor de transporte logístico marinho é inelástica. Mesmo com o aumento significativo da capacidade da frota, a demanda adicional gerada por tensões geopolíticas e redistribuição de rotas comerciais não é facilmente absorvida.


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Fonte: Ship Finance Danish. Acesso em 25/05/2024

 

Mas esses fatores de curto prazo podem estar ocultando mudanças mais profundas na demanda por transporte marítimo. Segundo o mesmo relatório da Ship Finance, mudanças demográficas e o movimento de descarbonização podem estar silenciosamente recalibrando a relação entre o crescimento econômico global e os volumes de comércio marítimo.


Entre 2000 e 2020, o volume comercializado cresceu a uma taxa média anual de aproximadamente 3%, o que se traduziu em um multiplicador do PIB próximo de 1. Isso significa que os volumes de comércio acompanhavam, de forma geral, o crescimento econômico global. Essa relação é importante para que os agentes possam prever as taxas de frete e a demanda por novos navios.


O que vimos nos últimos anos é uma diminuição nessa correlação. A entrada da China na Organização Mundial do Comércio em 2001 impulsionou o aumento do volume transportado. Desde então, a relação PIB-volume comercializado alcançou um pico de 1,28 em 2008, mas tem caído drasticamente nos anos 2020.


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Fonte: Ship Finance Danish. Acesso em 26/05/2024


Esse cenário representaria um risco para narrativa predominante no setor atualmente, que afirma que o volume de comércio deve continuar crescendo, o que justificaria esforços no presente para expandir a oferta no futuro próximo.


A discussão é relevante, inclusive, no contexto de descarbonização da frota. Já que um volume de comércio em declínio pode ser entendido como um momento inadequado para fazer esses investimentos.


4.  ESTRUTURA DO SETOR

4.1.  POSIÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA

 

O transporte marítimo desempenha um papel crucial na cadeia produtiva global, atuando no posicionamento dos produtos na cadeia produtiva e na distribuição desses produtos para os consumidores finais.


Em termos de posição na cadeia produtiva, o transporte marítimo lida com produtos que servem tanto para atender às demandas do consumidor final quanto às necessidades de diversos setores produtivos. Esses produtos podem variar desde bens de consumo até matérias-primas e componentes utilizados na fabricação de outros produtos. Assim, o transporte marítimo é um elo essencial que conecta diferentes estágios da produção, garantindo que os insumos cheguem aos locais de produção e que os produtos finais sejam distribuídos para os mercados.


Além disso, desempenha um papel fundamental na distribuição dos produtos finais. Após a produção, os produtos precisam ser transportados dos locais de fabricação para os pontos de venda ou para os consumidores finais em diferentes partes do mundo. Nesse sentido, os navios mercantes desempenham um papel crucial no transporte de grandes volumes de mercadorias ao longo de rotas marítimas globais.


Em suma, o transporte marítimo não só facilita o movimento de produtos ao longo da cadeia produtiva, mas também desempenha um papel vital na distribuição dos produtos acabados, conectando os centros de produção aos mercados consumidores em todo o mundo.


4.2.  ESTRUTURAL SETORIAL

 

O comércio marítimo é frequentemente considerado um exemplo de oligopólio cooperativo. Isso significa que, embora haja um pequeno número de grandes empresas que dominam o mercado, essas empresas tendem a cooperar entre si para fixar preços, compartilhar rotas de navegação e coordenar suas operações. Essa cooperação pode ocorrer por meio de alianças estratégicas, consórcios ou acordos informais entre as empresas líderes do setor.


Essa cooperação entre as empresas de transporte marítimo é geralmente impulsionada pela natureza do mercado, que é altamente capital intensivo, com altos custos de entrada, acordos colusivos, concentração de mercado e economias de escala (dependem de um alto capital inicial). Além disso, as rotas de navegação e os serviços oferecidos pelas empresas são limitados, o que aumenta a interdependência entre elas. Essa interdependência muitas vezes leva as empresas a cooperarem para evitar a concorrência e maximizar seus lucros.


As empresas no mercado de comércio marítimo buscam formas de se destacar umas das outras, seja por meio de investimentos em tecnologia e infraestrutura, seja por meio da criação de alianças estratégicas para ampliar sua cobertura global. Essa competição por diferenciação pode levar a uma variedade de opções para os clientes e contribuir para um ambiente mais dinâmico dentro do setor.


É importante notar que o comércio marítimo também pode exibir características de um oligopólio competitivo, especialmente em certas rotas comerciais onde há uma competição mais acirrada entre as empresas. Em tais casos, as empresas podem competir por meio de diferenciação de serviços, eficiência operacional e preços competitivos.


4.3. PRINCIPAIS EMPRESAS E LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFIA

 

As maiores empresas do setor estão localizadas principalmente no continente europeu e asiático. Essa localização se torna uma vantagem, principalmente por estar próxima às principais rotas de comércio.

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Fonte: Alphaliner TOP 100. Acesso em 03/05/2024


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Fonte: Port Economics, Management and Policy

 

4.4.  ESTRUTURA DE CUSTOS

 

Custos em empresas de transporte marítimo logístico apresenta uma significativa complexidade e diversidade, variando conforme o tipo de operação e a escala da empresa. A descrição detalhada dessa estrutura enfrenta dificuldades devido à ausência de dados públicos específicos sobre o tema. Com o relatório da UNCTAD de 2021 sobre a estrutura geral do setor, obtivemos uma compreensão geral da composição de custos. Seus principais componentes incluem:


Combustível: frequentemente o maior custo individual para os operadores de navios, com a complexidade adicional de ser sujeito à volatilidade do preço do petróleo. A crescente pressão para a transição para combustíveis mais limpos e mais caros também exerce uma influência significativa sobre este custo;


Custos Portuários: taxas portuárias, que incluem custos de atracação e manuseio;


Manutenção e Reparação: manutenção regular e as reparações necessárias para garantir a operação segura e eficiente dos navios;


Depreciação: reflete o investimento intensivo em capital na frota;


Tripulação;


Seguros: custos com seguros, incluindo P&I (Protection and Indemnity) e casco e máquinas;


Para proporcionar maior clareza sobre a estrutura de custos, analisamos dados de algumas das maiores empresas de capital aberto, Maersk e Hapag-Lloyd, e agregamos essas informações para obter uma estimativa mais precisa.

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Fontes: divulgação anual de resultados Maersk e Hapag-Lloyd AG para 2023. Elaboração própria

 

4.5.  FORNECEDORES E OUTROS STAKEHOLDERS

 

Os fornecedores desempenham um papel fundamental nas operações das empresas de frete marítimo, impactando diretamente sua eficiência e competitividade no mercado global. Entre os principais fornecedores estão os fabricantes de navios e contêineres, cuja inovação e capacidade de produção são cruciais para a expansão e modernização das frotas. As autoridades portuárias, por sua vez, regulam as operações nos portos, influenciando os custos e a eficiência logística através de taxas e serviços essenciais. Além disso, os operadores de terminais e armazéns garantem o fluxo contínuo de mercadorias, desde o descarregamento dos navios até a distribuição final. Juntos, esses fornecedores formam a espinha dorsal da cadeia de suprimentos marítima, sustentando as operações diárias e facilitando o comércio internacional.


A capacidade global de construção naval está concentrada em poucos países, como China, Coreia do Sul e Japão, que juntos detêm a maior parte da capacidade de construção de navios do mundo. Essa concentração aumenta a dependência dessas empresas em relação a um número limitado de fornecedores, impactando os custos e a capacidade de expansão das frotas. Segundo dados do Ship Management International, só a China contribui com 50% da produção global de estaleiros, destacando-se na construção de graneleiros, petroleiros e contêineres.


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Fonte: Clarksons’ 2023 Shipbuilding Review. Elaboração própria

 

Logicamente, fenômenos de mercado que impactam empresas de frete marítimo também impactam a demanda por novos navios. Em 2022, ainda seguindo os reflexos das incertezas do período pandêmico, essas empresas postergaram pedidos por novos navios, e a idade média da frota mundial de navios de contêineres aumentou de 10,3 para 13,7 anos.


4.6.  DIVERSIFICAÇÃO

 

No contexto das empresas de comércio logístico marítimo, a diversificação emerge como uma estratégia essencial para enfrentar a volatilidade do mercado e maximizar oportunidades de crescimento. Empresas líderes, como a Mediterranean Shipping Company (MSC), exemplificam essa abordagem ao expandir suas operações além do transporte marítimo de contêineres para incluir o setor de cruzeiros, através da MSC Cruises, oferecendo experiências turísticas de alta qualidade e diversificando suas fontes de receita. Similarmente, a Maersk e outras grandes empresas do setor, como a Hapag-Lloyd, complementam suas operações marítimas com serviços de transporte terrestre e soluções logísticas integradas, proporcionando uma cadeia de suprimentos mais robusta e eficiente. A diversificação ajuda a mitigar riscos associados à dependência de um único segmento, a lidar com as pressões regulatórias e ambientais, a atender às demandas por soluções


logísticas integradas e a aproveitar de maneira mais eficiente a vasta infraestrutura e rede global existente, fortalecendo a posição competitiva das empresas no mercado global de logística.


5.      CONCENTRAÇÃO    DE   MERCADO   E   BARREIRAS   DE ENTRADA

 

Nos últimos 30 anos o setor de transporte marítimo de contêineres presenciou um processo de consolidação. Isso incluiu uma consolidação horizontal, por meio de fusões e aquisições; e uma integração vertical, através de investimentos em operações de terminais e outros serviços de logística; e acordos de cooperação na forma de alianças entre transportadoras.


Em maio de 2022, a “Federal Maritime Commission” publicou um relatório detalhado sobre os impactos da pandemia no setor marítimo. O relatório utilizou o Índice Herfindahl-Hirschman (IHH) para avaliar a concentração do setor. A pesquisa concluiu que o setor marítimo não é historicamente concentrado, mas não divulgou os valores específicos do índice.


Em relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), publicado no mesmo ano, também analisou a concentração do mercado utilizando o Índice de Concentração de Quatro Empresas (CR4/S4).


O estudo concluiu que o market share das 20 maiores empresas do setor marítimo manteve-se estável nas últimas décadas. No entanto, uma análise mais detalhada revela que as 10 maiores e, especialmente, as 4 maiores empresas têm se consolidado significativamente.

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Fonte: UNCTAD, com dados da Alphaliner. Acesso em 14/05/2024

 

A consolidação do setor foi impulsionada principalmente pelo desenvolvimento tecnológico, que tornou os navios maiores e mais caros, além da desregulação do mercado. Esses fatores têm promovido a concentração de mercado nas mãos de poucas empresas. A análise também sugere que a consolidação atingiu seu pico e não deve evoluir significativamente no futuro próximo.


O Índice Herfindahl-Hirschman (IHH) do setor foi calculado pelo grupo com os dados da Alphaliner e ficou em 1.168, indicando um mercado competitivo. Este cálculo considerou as 30 maiores empresas, que juntas representam cerca de 93% do market share. O Índice de


Concentração de Quatro Empresas (CR4/S4) mostra que as 4 maiores empresas detêm 57,5% do mercado total.


Em relação às barreiras de entrada, (Hirata, 2017) discute aspectos gerais do mercado que funcionam como barreiras. Um dos pontos principais é a formação de alianças estratégicas entre grandes companhias de navegação, que podem atuar como barreiras de entrada ao otimizar o uso da capacidade e expandir a cobertura geográfica. Isso torna desafiador para novos entrantes competir sem uma participação semelhante em alianças.


Esses acordos e parcerias não se restringem a outras empresas de transporte, mas também a autoridades portuárias, o que, como vimos, representa grande parte dos custos dessas empresas. Como transportadoras individuais conseguiram aumentar suas participações no mercado, elas agora têm uma maior escolha de portos para acessar os mesmos mercados de transporte interno ou melhorias no trânsito e mercados de transporte comuns em países vizinhos. Por meio da integração vertical, as principais transportadoras se tornaram simultaneamente clientes e inquilinos, adquirindo maior poder de negociação. Além disso, como membros de alianças, as linhas de navegação foram capazes de estabelecer mercados de compradores concentrados, formando oligopsônios.


Nesse contexto, pequenos países insulares frequentemente se encontram em uma posição delicada no que tange à gestão e ao desenvolvimento de seus portos. Ao conceder concessões, esses governos podem querer estabelecer seus portos como centros de transbordo. Portanto, podem preferir empresas verticalmente integradas que também operem serviços de transporte de linha, pois são mais propensas a usar o terminal como um hub logístico. Um exemplo ilustrativo dessa dinâmica é o porto de Piraeus, na Grécia, que foi concessionado à COSCO. A empresa trouxe seus próprios serviços e cargas e aumentou significativamente o volume e a conectividade, tanto para o interior quanto para os portos e mercados estrangeiros aos quais está ligado. Apesar dos benefícios imediatos, a prática resulta em menos competidores no mercado, o que pode restringir a inovação e aumentar os preços para os consumidores finais.


Outro aspecto relevante são as economias de escala. O mercado favorece operadores com grandes frotas de navios, já que podem distribuir os custos operacionais de maneira mais eficiente. Isso cria uma desvantagem para empresas menores ou novas no mercado. Além disso, os custos operacionais e de capital também são citados como barreiras significativas. Iniciar operações no setor requer investimentos substanciais em navios e infraestrutura, além de enfrentar altos custos operacionais, o que pode desencorajar novos entrantes.


A análise do ano de fundação das 30 maiores empresas de transporte marítimo, medidas em termos de TEU (“Twenty-Foot Equivalent Unit”, padrão utilizado para quantificar capacidade de carga), revela um cenário interessante sobre a entrada de novos players nesse setor. O ano médio de fundação dessas empresas é 1968, indicando que as principais operadoras têm consolidado suas posições no mercado há várias décadas. A empresa mais recente entre as líderes é a Ocean Network Express (ONE), fundada em 2017. No entanto, a ONE não representa uma nova entrada no mercado, mas sim uma fusão de três empresas japonesas pré-existentes, sendo que a mais jovem foi estabelecida em 1919.


6.  CONDUTA DAS EMPRESAS

 

No dinâmico e competitivo setor logístico marítimo internacional, as empresas empregam uma série de estratégias abrangentes para se destacar e conquistar clientes. Essas estratégias incluem a otimização de operações, a diferenciação através de serviços inovadores e personalizados, o fortalecimento da marca e a expansão global.


Para manter a competitividade, as empresas focam primeiramente na otimização de suas operações. Isso envolve a redução de custos por meio da otimização de rotas marítimas,como a Maersk tem feito ao implementar rotas mais eficientes utilizando tecnologia de dados avançada. Utilizam também navios mais eficientes e, adotam tecnologias avançadas para aumentar a eficiência das operações, como sistemas de gerenciamento de transporte (TMS), automação de processos e rastreamento de cargas em tempo real.


Em termos de diferenciação, as empresas buscam especializar-se em nichos de mercado específicos. A MSC, por exemplo, tem se focado em oferecer serviços personalizados para o transporte de cargas refrigeradas, atendendo às necessidades específicas do setor alimentício. Inovam ao criar novos serviços, como a Evergreen que oferece uma solução integrada que combina transporte marítimo com serviços logísticos terrestres.


No que tange ao fortalecimento da marca, as empresas investem em marketing e comunicação para construir uma imagem forte e reconhecida. A Yang Ming, por exemplo, tem investido significativamente em campanhas de marketing digital para aumentar seu reconhecimento de marca globalmente. Desenvolvem relacionamentos duradouros com os clientes por meio de atendimento personalizado, como o programa de fidelização da ONE, que oferece vantagens exclusivas para clientes frequentes. Participam ativamente de feiras e congressos, como a participação da Hapag-Lloyd na Intermodal South America, para promover seus serviços e estabelecer conexões valiosas.


Finalmente, na busca pela expansão global, as empresas exploram novos mercados internacionais para aproveitar oportunidades de crescimento e diversificar suas bases de clientes.


A Maersk, por exemplo, tem expandido suas operações para mercados emergentes na África e Ásia. Também realizam aquisições e formam parcerias estratégicas para ampliar sua presença geográfica, como a parceria recente entre a CMA CGM e a Alibaba para melhorar a oferta de serviços de e-commerce. Adaptam seus serviços e comunicações às culturas e necessidades locais dos diferentes mercados onde atuam, uma estratégia chave para a MSC ao entrar no mercado sul-americano.


7.  DESEMPENHO

7.1 PAPEL DO SETOR NA ECONOMIA NACIONAL

 

A logística marítima internacional desempenha um papel fundamental na economia nacional, contribuindo significativamente para o Produto Interno Bruto (PIB) e para diversos outros indicadores relevantes. Para compreendermos a magnitude dessa importância, vamos analisar alguns dados e indicadores:


Faturamento: O setor de logística marítima internacional gera um faturamento anual significativo, que representa uma parcela considerável do PIB nacional. No Brasil, por exemplo, o setor estima ter faturado R$400 bilhões em 2021, o que equivale a cerca de 3% do PIB.


Empregos: A logística marítima gera milhares de empregos diretos e indiretos, tanto em atividades portuárias e marítimas quanto em setores relacionados, como agenciamento de cargas, transporte terrestre e armazenagem. No Brasil, estima-se que o setor seja responsável por mais de 1 milhão de empregos.


Comércio exterior: A grande maioria do comércio exterior brasileiro (cerca de 95%) é escoado por via marítima, demonstrando a importância crucial da logística marítima para a competitividade internacional do país.


Investimentos: O setor de logística marítima também atrai investimentos significativos, tanto nacionais quanto internacionais, em infraestrutura portuária, frota marítima e tecnologia. Esses investimentos contribuem para o desenvolvimento econômico e a modernização do setor.


A logística marítima eficiente desempenha um papel crucial no balanço comercial do Brasil. Ao viabilizar a exportação de produtos nacionais, como commodities agrícolas e minerais, e a importação de insumos e bens de capital, ela contribui para um saldo positivo na balança comercial. Além disso, a logística marítima conecta o Brasil ao mercado global, facilitando o acesso a novos mercados e oportunidades de negócios, promovendo a integração do país ao comércio internacional.


No contexto brasileiro, o setor de logística marítima também pode impulsionar o desenvolvimento regional, especialmente em áreas costeiras com potencial portuário, como Santos, Rio de Janeiro e Itajaí. A presença de infraestrutura portuária avançada atrai investimentos, gera empregos e promove o crescimento econômico local, beneficiando diretamente essas regiões.


Além desses benefícios, a logística marítima no Brasil impacta outros aspectos importantes da economia e da sociedade. A segurança alimentar, por exemplo, depende da eficiência da logística marítima para o transporte de alimentos, garantindo o abastecimento interno e a segurança alimentar da população. A eficiência da logística marítima influencia diretamente


o desempenho da cadeia de suprimentos como um todo, afetando os preços dos produtos e a competitividade das empresas brasileiras.


Por fim, a adoção de práticas sustentáveis na logística marítima, como a redução de emissões de gases de efeito estufa, contribui para a proteção do meio ambiente e a promoção do desenvolvimento sustentável no Brasil. Essas práticas são essenciais para garantir que o crescimento do setor ocorra de maneira responsável e em harmonia com os objetivos ambientais globais, ajudando o país a cumprir seus compromissos internacionais relacionados à sustentabilidade e ao combate às mudanças climáticas.


7.3. PERSPECTIVAS PARA O SETOR
 

As transformações na logística estão causando uma revolução no mercado, trazendo impactos positivos até mesmo para as operações portuárias e marítimas. Elas se tornaram importantes aliadas em diversas atividades. Portanto, para se destacar e obter melhores resultados, as empresas precisam estar atentas às novas ferramentas e soluções disponíveis, sendo essencial compreender suas aplicações e como incorporá-las.


Empresas que trabalham com tecnologias para o setor marítimo e portuário são conhecidas como ship techs. É esperado que elas melhorem seus resultados e se destaquem no mercado, já que oferecem serviços cada vez mais integrados, tendo o potencial de impulsionar o crescimento da logística marítima. Segundo o Mapeamento de Startups Marítimas da Wilson Sons, o mercado global de ship techs deve alcançar US$ 278 bilhões até 2030, o que indica um crescimento anual de 8,4%. O estudo também analisou o trabalho de startups e hubs de inovação que se concentram em desenvolver soluções para o setor, uma das estratégias mais destacadas é a aquisição de tecnologia de startups.


Outro ponto é que várias organizações já estão engajadas em iniciativas colaborativas com outros parceiros. No entanto, a situação é diferente no segmento marítimo, essa dinâmica está gradualmente mudando devido à crescente necessidade de cooperação e compartilhamento de dados para otimizar processos e aumentar a produtividade. Neste novo contexto, já podemos observar casos de sucesso. Em dezembro de 2021, a SPA, a Wilson Sons e a DockTech firmaram um acordo de cooperação técnica com o intuito de aprimorar e implementar uma tecnologia inovadora para monitorar em tempo real a profundidade operacional do canal de navegação e o acesso aos berços de atracação do Porto de Santos.


Além da importância social, há normas ambientais que requerem a redução de gases que contribuem para o aumento do efeito estufa. Por essa razão, diversas empresas estão optando por práticas operacionais mais sustentáveis e ecologicamente corretas, com o objetivo de reduzir as emissões de carbono durante suas atividades. No ano de 2020, a Organização Marítima Internacional (IMO) estabeleceu uma regulação que determinava a diminuição do conteúdo máximo de enxofre no combustível de navios de 3,50% para 0,50%. As Nações Unidas também estão atuando para garantir a gestão sustentável e a preservação dos ecossistemas marinhos e costeiros contra a poluição, além de abordar os efeitos da acidificação dos oceanos.


Um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) destaca a necessidade de novas abordagens operacionais, especialmente no campo logístico da indústria. De acordo com um estudo realizado pelo Boston Consulting Group (BCG), o setor naval precisará de investimentos da ordem de US$2,4 trilhões para zerar a emissão de carbono até 2050 .


É evidente que a automatização está trazendo benefícios significativos para as operações marítimas, criando mais oportunidades, reduzindo erros, minimizando impactos ambientais e assegurando uma logística inovadora e eficiente. Conforme indica Wang “Framework for Process Analysis of Maritime Accidents Caused by the Unsafe Acts of Seafarers” entre 70% a 80% dos acidentes são causados por erros humanos.


Referências Bibliográficas

 

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Hirata, Enna. Contestability of Container Liner Shipping Market in Alliance Era. The Asian Journal of Shipping and Logistics, v. 33, n. 1, p. 27-32, 2017. ISSN 2092-5212. DOI:                     https://doi.org/10.1016/j.ajsl.2017.03.004.               Disponível              em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2092521217300044. Acesso em: 26 mai. 2024.


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