Quais setores de atividade econômica têm maiores quantidades de gases do efeito estufa embutidos em sua produção?
- Lúcio Freitas
- 24 de mai.
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Por Lúcio Freitas
Esta nota de pesquisa responde à seguinte pergunta: quais setores de atividade econômica têm maiores níveis de emissão de gases do efeito estufa (GEE) embutidos em sua produção?
Observe a pergunta com a devida atenção. A resposta pressupõe que sejam conhecidas as emissões ao longo das cadeias produtivas da economia brasileira. Ou seja, requer que se saiba como são transmitidas entre os setores, através das compras de insumos, as emissões necessárias para a produção dos diversos bens e serviços.
O instrumento de análise adequado para responder essa pergunta é a matriz de insumo-produto (MIP) de Leontief. Deste modo, partimos da desagregação das emissões brasileiras constantes do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) entre 42 setores produtivos da MIP, a preços constantes, estimada pelo Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A evolução das emissões de GEE desde 2000 pode ser consultada no gráfico 1. Claramente, no caso brasileiro, a Mudança de uso da terra e florestas (Mutf) é a principal causadora dos GEE, devido, principalmente, ao desmatamento.

Gráfico 1 - Emissões de gases do efeito estufa por fonte emissora, Brasil, 2000 a 2023.
Fonte: SEEG, 2023. Foram considerados os gases: dióxido de carbono (CO2), Óxido nitroso (N2O), Metano (CH4) e gases fluorados, convertidos em CO2 equivalentes segundo o coeficiente Global Warming Potencial 6, do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
A variação nas emissões da Mutf acompanha muito mais o avanço ou o retrocesso das políticas de combate ao desmatamento do que, propriamente, o crescimento econômico. Vê-se ainda que a agricultura, a queima de combustíveis fósseis e os processos industriais aumentaram continuamente suas emissões. A rigor, estas fontes estão mais associadas à produção de bens e serviços.
A desagregação dessas emissões entre os setores da MIP foi adaptada da metodologia de Montoya et al (2013) para o consumo energético e emissões da queima de combustíveis fósseis, e ampliada das fontes agropecuária e processos industriais. O ano mais recente com dados disponíveis é 2021. Com base nas emissões setoriais, foram calculados coeficientes por valor bruto da produção setorial, que serviram para ponderar a Matriz de Leontief. Daí foram calculados os geradores de emissões, como a soma vertical das colunas da MIP ponderada. Os resultados podem ser visualizados na tabela abaixo, para os dez setores com maiores emissões embutidas em seu produto.
Tabela 1 - Emissões embutidas na produção setorial, em toneladas de GEE por milhão de R$, 2021.
Setores | Emissões ton./mil R$ |
Agricultura, silvicultura, exploração florestal, pecuária e pesca | 2.645,42 |
Cimento e outros produtos de minerais não-metálicos | 1.420,77 |
Fabricação de produtos do fumo | 1.243,92 |
Fabricação de biocombustíveis | 1.205,00 |
Alimentos e bebidas | 1.114,66 |
Transporte armazenagem e correio | 842,15 |
Produção e distribuição de eletricidade gás água esgoto e limpeza urbana | 668,29 |
Fabricação de produtos têxteis | 615,81 |
Metalurgia de metais não-ferrosos | 555,19 |
Fabricação de aço e derivados | 441,03 |
Fonte: elaboração própria, 2025.
Como a agropecuária é o setor que mais emite GEE no Brasil, os setores que têm na agropecuária seu principal fornecedor terão maiores níveis de emissões embutidas em seus produtos. É o caso da própria agropecuária, da Fabricação dos produtos do fumo, da Fabricação de biocombustíveis e dos Alimentos e Bebidas. Os demais setores têm suas emissões embutidas mais relacionadas ao setor energético.
O resultado mais relevante é que a redução das emissões brasileiras, além do controle do desmatamento, pressupõe a diminuição das emissões do setor agropecuário. Neste caso, são medidas importantes: encontrar substitutos ou técnicas como o plantio direto, que diminuam o uso de fertilizantes nitrogenados, a recuperação de solos degradados, ou o consórcio lavoura-pastagem-floresta, para compensar as emissões de metano pela fermentação entérica dos rebanhos.


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