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Quando o ovo de Páscoa fica caro: a opção pelos bens substitutos

  • Vitória Batista Santos Silva e Larissa Lugli Hidalgo Gonçales
  • 24 de mai.
  • 4 min de leitura

 Por Larissa Lugli Hidalgo Gonçales e

                                               Vitória Batista Santos Silva (1)


A Páscoa de 2025 já terminou, mas o debate sobre o preço dos ovos de Páscoa ainda permanece no dia a dia dos brasileiros. Não é de hoje que o aumento desse item chama a atenção: de acordo com levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas nos últimos três anos o preço do ovo de Páscoa acumula alta de 43% (Ramos, 2025). Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (ABIA) o preço do cacau teve uma alta de 189% nos últimos doze meses, impactando no preço do ovo de Páscoa. O chocolate em si teve um aumento de 11,9% nos preços  (Bocanegra, 2025) e, mesmo considerando que o aumento não seja repassado em sua totalidade ao consumidor, por considerarmos que há outros ingredientes que são utilizados na produção – como biscoitos, frutas, amendoim, pistache e outros recheios específicos – o consumidor sentiu no bolso a dificuldade em encontrar opções mais econômicas. A análise microeconômica dos bens substitutos pode ser aplicada para melhorar a compreensão sobre como foi possível buscar alternativas aos ovos de Páscoa nesse cenário.


Um dos fatores que culminou na alta do preço do cacau foram as questões climáticas na África, que contribuíram para a redução da produção do grão considerado uma das principais matérias-primas para a fabricação do chocolate. Como o Brasil está entre os dez principais produtores mundiais de cacau, é mais sensível às consequências das oscilações dos preços do mercado internacional. Como o cacau é uma commodity, a autonomia de um país é menor para interferir no preço, fazendo com que o preço internacional influencie fortemente no que será observado no cenário doméstico (Folha do ES, 2025).


Com o aumento do preço os consumidores procuraram alternativas, tais como comprar produtos locais/caseiros, ovos de Páscoa artesanais, barras de chocolate, entre outros, em razão dos preços serem mais acessíveis e por ser possível um maior controle da qualidade dos ingredientes, além de opções mais personalizadas. Ademais, alguns escolheram ovos menores, para lidar com a questão do preço. Essa mudança de comportamento pode ser compreendida à luz do conceito de bens substitutos, discutido no âmbito da microeconomia.


Por definição, os bens substitutos são aqueles que atendem à necessidade do consumidor, ou ao seu desejo, podendo substituir outro cuja aquisição se torna menos vantajosa, algo que ocorre em virtude do aumento do preço (Mankiw, 2021). Quando o preço do ovo de Páscoa aumenta significativamente, os consumidores tendem a optar por outras mercadorias que ofereçam uma experiência similar, como é o caso das barras de chocolate ou caixas de bombons, mas com um custo menor.


Essa dinâmica de substituição também impulsiona as empresas a repensarem suas estratégias: algumas marcas passaram a lançar produtos alternativos aos ovos de Páscoa, como kits para montar os próprios ovos, ou barras de chocolate em formatos temáticos. Outra necessidade é a de as empresas mudarem a estratégia de marketing, a fim de atender à demanda dos consumidores por produtos mais acessíveis.


Ainda assim, não foi simples realizar a substituição por produtos alternativos na última páscoa. Conforme De Chiara (2025) e Kramer (2025), embora muitos consumidores escolham comprar barras de chocolates por serem mais baratas do que ovo de Páscoa, em 2025 as barras de chocolates também estão mais caras em comparação aos anos anteriores; mesmo assim, ainda são consideradas alternativas viáveis aos ovos de Páscoa.


Em suma, a Páscoa deste ano mostrou como fatores globais, como o clima e a oferta de determinada matéria-prima, podem impactar diretamente os hábitos relacionados ao consumo. Em um cenário como esse, tanto quem produz como quem compra precisa se adaptar. O cenário é uma oportunidade análise de diversos fatores econômicos, comportamentais e sociais em conjunto, e a forma como as empresas e os consumidores interagem reflete a complexidade do mercado.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

BOCANEGRA, C. Ovo de Páscoa Mais Caro: Alta de 189% No Cacau Impactará Preços Deste Ano, Diz ABIA. InfoMoney, 20 Fev. 2025. Disponível em: www.infomoney.com.br/consumo/ovo-de-pascoa-mais-caro-alta-de-189-no-cacau-impactara-precos-deste-ano-diz-abia/. Acesso 24 Mar. 2025.


DE CHIARA, M. Menos ovos de Páscoa, mais bombons: qual a estratégia dos fabricantes para driblar a alta do cacau. Estadão, 12 mar. 2025. Disponível em: https://www.estadao.com.br/economia/ovos-de-pascoa-bombons-preco-do-cacau/. Acesso em: 25 abr. 2025.


KRAMER, V. Ovo de Páscoa subiu de preço; barra e bombom, mais ainda. O que explica a disparada. Gazeta do Povo, 31 mar. 2025. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/alta-preco-ovos-de-pascoa-chocolate-clima-cacau/. Acesso em: 25 abr. 2025.


MANKIW, N. G. Princípios de microeconomia. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2021.

OVO de Páscoa Mais Caro: Alta de 189% No Cacau Deve Encarecer Preços. Folha do ES, 24 Fev. 2025. Disponível em: folhadoes.com/ovo-de-pascoa-mais-caro-em-2025-alta-de-189-no-cacau-deve-encarecer-precos/. Acesso em: 24 Mar. 2025.


 

 


(1) Egressa da graduação em ciências econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Professora da graduação em ciências econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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