Redefinindo a Educação na Era Digital
- Larissa Lugli Hidalgo Gonçales e Vitória Batista Santos Silva
- 10 de dez. de 2024
- 5 min de leitura
Por Larissa Lugli Hidalgo Gonçales
e Vitória Batista Santos Silva
Os avanços tecnológicos e a rápida transformação digital trouxeram modificações significativas para a forma como as informações são disseminadas, o que fez com que diversos setores precisassem repensar várias de suas atividades, e não é diferente para o caso da educação. O uso cada vez maior de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) e demais aparatos digitais para a aprendizagem possibilitou uma série de novas abordagens para o ensino, facilitando a interação e personalizando instrumentos de avaliação e feedback. Entretanto, é preciso considerar que a introdução de qualquer inovação necessita ser acompanhada pela qualificação profissional, bem como pela adaptação dos processos, a fim de que seja possível conciliar aspectos éticos e de inclusão, extraindo o melhor resultado da combinação entre tecnologia e conhecimento.
Para Figueiredo et al. (2023) a educação pós-pandemia trouxe mudanças significativas para a sala de aula devido a suspensão das aulas presenciais e a introdução das aulas online, trazendo diversos desafios para os estudantes, sendo alguns deles a própria mudança da modalidade e muitas vezes a adaptação do ambiente para que seja propício ao estudo, bem como o acesso à internet. O corpo docente também enfrentou dificuldades, como adaptar as aulas para o formato online, e garantir a interação e a participação o corpo discente durante as aulas. Por outro lado, a pandemia trouxe uma aceleração na adoção da tecnologia na educação, impulsionando o surgimento de novos modelos de ensino com o uso do Google Classroom, do Microsoft Teams, entre outros. Não pode-se negar também que, em um primeiro momento após emergirem tecnologias como chats que escrevem textos cada vez mais humanizados, a insegurança sobre o rumo dos processos avaliativos educacionais tenha aumentado.
Segundo Pacheco et al. (2024) com o avanço tecnológico a forma de pesquisar e ter acesso à informação mudou, pois há uma quantidade gigantesca de informações que podem ser acessadas de qualquer local instantaneamente, o que pode contribuir para o processo de ensino, considerando que o uso da tecnologia na educação tem vantagens e desafios. Uma das vantagens é a possibilidade de personalização do ensino, feita por meio de plataformas de dados que mostram o desempenho dos alunos, possibilitando aos educadores avançarem no conteúdo conforme a desenvoltura de cada aluno, permitindo uma aprendizagem eficaz e inclusiva para os estudantes. Outro ganho é a possibilidade de avaliação automática, mostrando o desempenho do aluno em determinada tarefa, indicando aos educadores como melhorar o ensino e também como aprimorar as suas estratégias.
Durso (2024) relembra que existem diversas teorias no campo educacional que tentam compreender o processo de aprendizagem e de ensino, como a Teoria da Aprendizagem Significativa (Ausubel, 1968) – que assume que a absorção de novos conhecimentos é influenciada pelos conhecimentos prévios do aluno –, a Teoria da Aprendizagem Transformadora (Mezirow, 1991) – que prioriza transformações críticas e conscientes por parte dos indivíduos, de forma a impactar nas perspectivas e crenças –, e a teoria da Pedagogia do Oprimido (Freire, 1987), que admite que o contexto social e cultural deve ser parte extremamente relevante do processo de aprendizado.
E é aqui que cabe espaço para a discussão de como é importante pensar que a inclusão de tecnologias precisa ser planejada com cuidado. As teorias tradicionais da educação mencionadas anteriormente foram pensadas em um contexto no qual ainda não havia a disseminação da tecnologia na sala de aula como existe hoje. Assim, é preciso adaptá-las ao contexto atual, repensando principalmente o papel do educador como mediador entre o aluno e a tecnologia, a fim de guiá-lo ao desenvolvimento de um pensamento crítico frente às informações apresentadas, contribuindo para fomentar a capacidade de interpretação e uso correto das informações. Não cabe uma discussão contra as tecnologias, mas sim uma reflexão acerca de como utilizar as novas ferramentas disponíveis de forma ética e consciente, fazendo com que elas tornem-se instrumentos pedagógicos integrados às práticas principais e alinhados aos objetivos educacionais.
Ainda conforme Durso (2024), a formação educacional hoje supera e muito a visão de que a sala de aula é apenas um ambiente que transmite conhecimentos específicos para atuação no mercado de trabalho, e deve ter como preocupação central o desenvolvimento de competências que possam ser adaptadas e aprimoradas conforme o contexto. Assim, hoje em dia é inviável desconsiderar a inteligência artificial no processo educacional, pois os alunos que não tiverem contato com essas tecnologias certamente estarão menos preparados para lidar com ferramentas similares que podem aparecer no mercado de trabalho no futuro, estando menos preparados para lidar com temas relativos à ética, tanto de forma geral como especificamente no uso de dados, identificação de fake news etc. A transformação pela tecnologia vem apresentando um ritmo muito acelerado, e é necessário manter um perfil proativo. Andrade, Francisco e Menegussi (2019) explicam também que a IA pode ser uma aliada ao estudante dentro e fora da sala de aula, permitindo uma abordagem mais interdisciplinar.
Outro desafio que aparece é evitar que a inclusão de tecnologia no ensino seja um mecanismo de aprofundamento das desigualdades sociais, uma vez que nem todos os estudantes possuem acesso a dispositivos tecnológicos e à internet de qualidade suficiente para tornar eficaz o aprendizado, principalmente em regiões de baixa renda e/ou com problemas de infraestrutura. Não formular ações para mitigar essas diferenças sociais pode fazer com que os alunos que já enfrentam dificuldades acabem ficando ainda mais excluídos.
Para finalizar, destaca-se que a tecnologia representa uma oportunidade para o ambiente educacional, permitindo modernizar os processos de ensino e aprendizagem. Mas é preciso considerar o planejamento cuidadoso a fim de que seja possível colher os melhores frutos da inovação, levando em conta a necessidade de qualificação profissional para lidar com a tecnologia, a formulação e implementação de políticas para lidar com as desigualdades de acesso, dentre outros. A tecnologia não deve ser vista como um fim, mas como um meio para uma educação mais personalizada e inclusiva, ficando o seu sucesso a depender de um compromisso coletivo em buscar que o avanço tecnológico beneficie a todos, e proporcione indivíduos mais preparados para o futuro profissional.
Referências
ANDRADE, José Luccas de. FRANCISCO, Alex Sandro Lima. MENEGUSSI, Rodrigo. A influência da inteligência artificial na educação. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, São Paulo, v. 8, n. 7, p. 50-60, jul. 2019.
AUSUBEL, D. P. Educational psychology: a cognitive view. Nova Iorque: Holt, Reinehert & Winston, 1968.
DURSO, S. Reflexões sobre a aplicação da inteligência artificial na educação e seus impactos para a atuação docente. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 40, e:47982, jan. 2024.
FIGUEIREDO , L. et al. Desafios e impactos do uso da Inteligência Artificial na educação. Educação on-line, Rio de Janeiro, v. 18, n. 44, p. e18234408–e18234408, nov. 2023.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
PACHECO, R. D. et al. Os impactos da inteligência artificial na sala de aula. Revista Foco, Curitiba, v. 17, n. 6, p. e5429, jun. 2024.
MEZIROW, Jack. Transformative Dimensions of Adult Learning. San Francisco: Jossey-Bass, 1991.


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